Marcos Cintra*
A cidade de São Paulo representa 12% do PIB brasileiro e 36% do PIB paulista. Fenômenos que afetam a estrutura produtiva paulistana se propagam em grande magnitude na economia nacional e estadual. Um grave problema que chama atenção refere-se ao custo crescente que os congestionamentos diários impõem à sociedade.
O trânsito paulistano se tornou uma calamidade que vai muito além do estresse diário que causa no cidadão. As horas perdidas todos os dias nos engarrafamentos implicam em custos bilionários.
No período entre fevereiro de 2003 e setembro de 2012 a quantidade de automóveis em São Paulo aumentou 1.527.429 unidades; 13.426 novos carros todo mês ou 447 por dia. Quando se considera no mesmo intervalo de tempo a frota total (carros, motocicletas, caminhões, utilitários e outros) observa-se um crescimento de 2.540.659 veículos, equivalente a 21.902 por mês ou 730 a mais por dia na frota paulistana.
O problema é que a infra-estrutura viária da cidade não foi capaz de atender essa expansão. A oferta de vias para os novos veículos circularem não avançou na mesma velocidade do crescimento da frota.
O modelo viário do município vem há décadas privilegiando grandes obras, de custo elevado, que hoje apenas transferem os congestionamentos para alguns metros adiante. São Paulo precisa de uma concepção viária que invista na revascularização do trânsito.
Um exemplo disso seria a construção de pontes sobre os rios Pinheiros e Tietê. Se os quase R$ 3 bilhões gastos nos túneis Ayrton Sena, Jânio Quadros, Rebouças, Faria Lima e na ponte estaiada do Real Parque tivessem sido utilizados para construir 80 pequenas pontes com três vias em cada sentido, ocorrência comum na Europa, por exemplo, a cidade teria menos congestionamentos.
A cidade de São Paulo vive um caos de mobilidade que causa perdas de R$ 40 bilhões por ano. Isso se dá por conta da combinação da precariedade dos sistemas viário e de transporte coletivo com o aumento acelerado da quantidade de carros.
O custo que essa situação impõe é espantoso. Eles podem ser classificados em dois tipos: o tempo ocioso das pessoas no trânsito e os gastos impostos à sociedade.
O primeiro tipo é um conceito chamado de “custo de oportunidade”. Considerando apenas os períodos críticos dos congestionamentos pela manhã e tarde/noite e o custo da hora de trabalho em São Paulo esse valor hoje é de R$ 30 bilhões.
Quanto aos gastos referentes ao consumo de combustível pelos carros e ônibus, o impacto dos poluentes na saúde da população e o aumento no custo do transporte de carga há uma perda de R$ 10 bilhões por ano.
As perdas provocadas pelos congestionamentos em São Paulo demandam uma nova postura do poder público. A prefeitura e os governos estadual e federal precisam atuar em parceria entre si e com a iniciativa privada para equacionar a grave crise de mobilidade na principal economia do País.
*doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.