Como é sabido, não temos partidos, mas conglomerados partidários que se movimentam de acordo com projetos políticos de longuíssimo prazo (vinte anos se tornou um número cabalístico) e que se revezam.
No entanto, a dinâmica e surpreendente realidade política gera surpresas num regime democrático. Não raro esses agrupamentos (reduzidos a dois) defrontam-se com crises que os poderiam defenestrar. A gangorra montada impede posições mais extremadas, que ficam para governos que não os integraram, como o de Fernando Collor. Não que não houvesse motivos para o “impeachment”, mas o mesmo não ocorreu com Lula, no dia em que Duda Mendonça escancarava no Senado o esquema do mensalão e não poupava o Chefe. Uma madrugada regada a cafezinho requentado pôs no epicentro da política brasileira dois de seus mais habilidosos políticos (Márcio Tomaz Bastos e Fernando Henrique Cardoso), que conseguiram  dar a mão ao menino de Garanhuns que, mais uma vez, estava perdendo o pau de arara, segundo se pode ler de um Especial do Jornal Valor sobre o episódio. Para o caminhão não despencar no abismo, conforme justificaram.  Naquele dia, as coisas estavam tão fora de controle que até Dilma Roussef chegou a sugerir a renúncia do Chefe.
Assim, de crise em crise, mais ou menos graves, caminha o grotesco presidencialismo brasileiro, um regime adequado a esses projetos de propriedade de poder e incapaz de contar com o dinamismo que consegue superar impasses e retomar novos caminhos quando os velhos ficam intransitáveis.
Nosso novo período de representação federal promete o pior. A indústria e a infraestrutura em frangalhos, o governo lançando mão de contabilidades criativas para esconder seus fiascos, um fôlego efêmero propiciado pelas competições esportivas e seu “dai afther”, a debilidade do emprego e renda que serão inevitáveis após esses acontecimentos e a eleição fincada em suas respectivas bases – “pero no mucho” – do novo governo.
Nesse contexto, o vencedor das eleições equilibrará nas mãos batatas ardentes e provavelmente sairá bastante tosquiado. E o grupo contrário, da banda da oposição, descerá o pau de aroeira. Assim, virá com grande força em 2018.
É certo que o novo governo poderá tentar um realinhamento internacional, principalmente com os EUA e a União Europeia, que esboçam recuperação,  para sair da lista dos “cinco mais frágeis”, conforme previsão da Revista londrina Financial Times. Os resultados dessa resiliência, contudo, são duvidosos: tudo depende do estrago interno e externo, este a cargo de Raul Castro, Cristina Kirchner, Nicolás Maduro e outros grandes líderes místicos das republiquetas do século XXI.
Não é por outra razão que o PT manifesta por Dilma um querer sem querer. O velho mago e grande irmão está a postos, mais uma vez, para uma ação de salvação popular, assim como fazia na Vilares, na Scania, na Mercedes, de onde partiu para salvar o Brasil pela primeira vez em sua história.
Também não é outro motivo que vemos a oposição sem grande apetite, dispersa entre candidatos duvidosos e que pouco se entrega a galvanizar multidões. Pelo menos seus inconscientes gritam que o negócio não é dos melhores, já que é grande a possibilidade de se converterem em saco de pancadas.
Nesse clima, o povo brasileiro não está errado se, mais uma vez, se coloca na perspectiva do sofrimento, por mais dolorido que seja. Em verdade, tudo resulta de nosso esquema institucional, do modo como se processa nossa política, de um semi-presidencialismo governado por medidas provisórias, de um parlamento anódino, de um judiciário que se arrasta e de uma administração que se vale desse vazio não para ser eficaz e produtora de resultados, mas para consolidar seus projetos de vida pessoal e grupal no centro da polis. E não se cogita da criação de profundas mudanças constitucionais, políticas, administrativas, judiciais, tributárias etc. Sem falar na saúde, que é um dever do Estado no sentido de contratar médicos cubanos, e da educação, em cujas escolas nossos jovens infelizes e seus professores ainda tentam falar, escrever e calcular corretamente.
*advogado especialista em Direito Constitucional, Civil, Tributário e Coletivo do Trabalho