Apesar de toda inovação tecnológica e científica que tem tornado a vida humana mais prática e duradoura, não podemos deixar de manifestar toda a nossa indignação diante de um mundo que vem se deteriorando pausadamente, através dos desequilíbrios ecológicos gerados pelo consumo excessivo de recursos, pela emissão de gases e pelo desmatamento desenfreado que, além de colaborar com a questão dos gases, também leva ao empobrecimento dos solos, que diminui a produção de alimentos e assim sucessivamente provocando um efeito dominó que parece ou é certeza absoluta que terminará na extinção total dos seres vivos.
Na preocupação de salvar o planeta da destruição iminente, muitos ecologistas partiram para a defesa do planeta começando por defender o que chamamos de meio físico, isto é, as plantas, os animais, os rios, a atmosfera, o solo, e outros ambientes concretos, considerando que esses estão sem defesa diante da agressiva transformação em que o homem se lançou nos dois últimos séculos. Dessa forma, a partir da década de 1980 criou-se um grande aparato educacional para tentar modificar a mentalidade humana em relação ao meio ambiente. Contudo, para que esse propósito desse resultado deveria ser começado pelas escolas acreditando que, seria possível incutir a mentalidade ecológica na geração que se iniciava, e através desta, buscar alguma mudança na geração já contaminada pelas ideias de progresso destruidor e consumista. Assim, surgiu uma geração que acredita que para proteger o planeta é preciso prender os caçadores de capivara, os pescadores de piracema, os poluidores de praças e ruas, os cortadores de árvores, os egoístas que jogam lixo nas ruas, rios e mares, além dos lançadores de agrotóxicos, os que usam cães beagles como cobaias e os incendiadores de canaviais.
O erro não está em acreditar que isso é problema ambiental, pois é notório que todas essas ações são prejudiciais ao meio ambiente ou a natureza animal e vegetal. O problema é acreditar que a solução dos desequilíbrios deve ser iniciada com a proteção do meio físico, antes de ser repensar o campo das relações e da mentalidade humana, pois como o homem vive e como ele pensa é o centro de todo o problema, já que não tem como mudar o que se faz se não se muda o que se pensa, isso porque a natureza, os homens e o que eles pensam está totalmente entrelaçado. Por isso acredita-se que antes de partirmos para a defesa dos ecossistemas que formam o meio físico é necessário que retornemos ou reinventemos uma nova forma de relação humana, na qual os homens se reconheçam como iguais ou quase isso. Homens que reconheçam que não moram sozinhos em um prédio de 20 andares, pois ao seu lado existem vizinhos que convivem com ele no mesmo espaço mais do que seus próprios parentes. Homens que não devem se esquecer de que eles estão incluídos em uma árvore genealógica muito extensa e não numa família reduzida ao mínimo, a ponto de se vierem sozinhos na multidão. Não podemos nos esquecer de que o mundo dos humanos é formado por um emaranhado de relações humanas que não podem ser extintas, pois deixaria de ser o mundo dos humanos.
Na atualidade perdemos nossos laços familiares, diminuímos nossos laços de amizades e praticamente extinguimos os laços de vizinhança. Erguem-se muros, fecham-se portas e janelas e insufilmamos os vidros dos carros. Quanto mais nos isolamos mais nos individualizamos e, com isso, não teremos que sair de nossa zona de conforto para nos preocuparmos com o mundo exterior.
Portanto, teremos algum resultado nesta questão se buscarmos primeiro a realização de uma articulação entre o meio-ambiente, as relações sociais e a consciência humana, pois o que está em discussão é a forma de se viver sobre este planeta daqui para frente, já que a forma, pela qual possibilitou o ser humano se perpetuar, está lentamente cedendo lugar ao imediatismo, ao modo fácil e despreocupado, pois se elegeu, involuntariamente, quem possa pensar por ele, ou seja, o homem não encontra mais barreiras a serem superadas, a não ser, o estar na frente do outro, donde os fins justificam os meios. Com isso o homem deixa, paulatinamente, de se perceber um ser complexo, para se tornar uma coisa, um objeto que pode ser manipulado ao sabor das tendências, tornando-se apenas um ponto de referência estatístico nesta cultura consumista.
Se por acaso entendermos que a agressão ao meio físico é uma consequência das mazelas que sufocam o homem, não precisaremos defender o que chamamos de meio físico, pois se conseguirmos modificar a consciência e o que está na mente humana, as relações humanas por si só conseguirão satisfazer as nossas necessidades e a natureza não sofrerá a agressão que sofre hoje.
*mestre em Geografia. Professor do ensino fundamental II e médio do Colégio Objetivo de Dracena.