Não é a primeira vez que destacamos o assunto e certamente não será a última. E todas as vezes que o fazemos, recebemos respostas de leitores descontentes com a nossa posição. Ao mesmo tempo que aceitamos essas contestações, afinal elas são normais na democracia, deixamos claro que o debate é sempre saudável porque nos ajuda a ampliar o leque do conhecimento. É aceitando as opiniões contrárias que aprimoramos o espírito crítico e podemos corrigir as nossas falhas.
O período eleitoral está chegando e o assunto será explorado tanto por aqueles que defendem o que costumamos chamar de paternalismo, como por aqueles que defendem drásticas modificações e até a extinção dos programas assistenciais patrocinados pelo governo; patrocinados pelo governo e bancados por aqueles que pagam os tributos.
Um país, cujo governo se orgulha de manter quase cinquenta milhões de pessoas penduradas no tal Bolsa Família, láurea maior do incentivo do comodismo, deveria ter mais argumentos para justificar a baixa qualidade de ensino que predomina em todo o seu território. Enquanto falta dinheiro para a pesquisa e para o ensino básico, o governo canaliza recursos para a universidade pública, beneficiando integrantes da camada mais abastada da população, sem exigir que, depois de formados, tenham que devolver parte do que receberam.
E em uma medida demagógica e ineficaz, vai distribuindo vagas por cotas, quando deveria vincular o poder aquisitivo mostrado nas declarações de renda, e cobrar a anuidade da universidade pública. A sociedade, como um todo, que sempre defendeu a meritocracia, sabe que não é justo o governo ficar fazendo caridade com o chapéu alheio.
Ao mesmo tempo em que mostra o constante incentivo ao comodismo, o governo comemora o aumento no número de trabalhadores “com carteira assinada”, fingindo ignorar o achatamento salarial que vem ocorrendo. Um trabalhador que perde o emprego só consegue recolocação com um salário muito inferior; e se não aceita a oferta, logo verá outro desempregado, tão pressionado quanto ele, à espera, disposto a concordar com o achatamento. E o resultado provoca sensíveis mudanças na sociedade.
Nessa falsa batalha contra o subemprego, esse mesmo governo vira as costas para a falta de especialização de nossa mão-de-obra e para a nossa falta de técnicos, resultados do longo período em que veneramos a formação superior e deixamos uma lacuna que se manifesta na hora da disputa pela vaga na universidade de ponta.
É nesse ponto que fica nítida a contradição que se acumulou ao longo dos anos: os mais ricos investem no ensino médio privado, e depois colocam os filhos na universidade pública; os mais pobres encaram o ensino público e depois, são obrigados a pagar pela universidade privada. Em ambos os casos teremos profissionais de nível superior, mas não teremos técnicos para colocar as mãos na massa, ou seja, o buraco está ficando maior do que o queijo.
*ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado