Tenho um amigo que foi perguntado no exterior, como suportávamos viver em um país tão violento. E a pergunta partia de um telespectador acostumado a ver um desses programas de televisão que se baseiam unicamente na exploração de violência. Não sei detalhes das respostas dadas por esse nosso amigo, mas sei que por mais convincentes que possam ter sido, nada justificaria para um estrangeiro, a situação que vivemos e que é mostrada por uma rede internacional de televisão.
A essa pergunta do estrangeiro, fiquemos com as nossas: qual o porquê de tanta violência, do nosso despreparo cultural, da quantidade de menores abandonados, no número alarmante de moradores de rua, dos nossos menores praticando crimes, da impunidade crescente, a lentidão de nossa Justiça, da inoperância do nosso sistema de vigilância das fronteiras, do crescente tráfico e consumo de drogas, da falta de vagas nos bancos escolares, na nossa falta de segurança, da  falta de saneamento básico, do nosso sistema de saúde pública, de nossas estradas, nossos portos, nosso transporte público. As perguntas são muitas, e certamente o leitor acrescentará mais algumas.
O mais leigo até que poderia sugerir que devolvêssemos o país para Portugal, já que não provamos capacidade de resolver todos os nossos problemas. Outros poderão que boa parte dele seja arrendado a países como o Japão e Israel, para que nos ensinem a administrar e a resolver os nossos problemas. Os mais céticos dirão que o nosso mal é a falta de tomar decisões e outros dirão que a corrupção está enraizada em nossa sociedade e ela sempre impedirá que nos tornemos uma grande nação.
Deixemos de lado as possíveis respostas, e vamos para o ponto nevrálgico: o nosso problema ganha proporções gigantescas porque o grande culpado é a nossa gestão, ou melhor, a inexistência dela com foco no crescimento e busca por resultados que realmente atendam às necessidades da população. De nada adianta termos grandes pensadores sobre um tema, ou um profissional de renome numa área de atuação, se este não souber administrar com coerência e na busca de resultados práticos.
Temos profissionais de nível superior, sentimos falta de técnicos devidamente preparados e, acima de tudo, a nossa carência maior é de gestores.
Um grande professor, um grande cientista nem sempre poderá ser um bom administrador. E nada adiantará despejarmos recursos em sua universidade se ele não tiver condições de administrar corretamente esses valores. O mesmo acontecerá em um hospital, em uma escola, em uma empresa estatal, em um porto. Nem sempre a falta de recursos é a responsável pelo serviço prestado à população. E nem sempre o excesso de recursos significará que a entidade vá prestar bons serviços à sociedade. Precisamos de medidas drásticas contra o desperdício e desvio de recursos públicos; e punições severas.
Precisamos de um Judiciário devidamente aparelhado e preparado para a função. O mesmo para os demais Poderes e sobre todos eles, a consciência da seriedade no tratamento da coisa pública. O grande passo é a educação, mas, acima de tudo, a certeza de que temos que combater a impunidade.
Paralelamente a isso, a violência se combate com medidas severas e investimentos em educação, e desde que esses investimentos passem por gestores devidamente preparados. Ao mesmo tempo, precisamos de amplo programa de controle de natalidade, combate à paternidade irresponsável e a devida preparação de educadores; pessoas devidamente preparadas, motivadas e bem remuneradas. Não chegaremos a ponto algum até que a educação da criança aconteça em casa, cabendo à escola apenas transmitir conhecimento. Uma sociedade que precisa de mudanças tem que quebrar tradições e aceitar desafios. Os desafios são muitos, e as tradições, nem tanto. Basta que deixemos de confundir inércia com tradição.

*ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo. Acesse: www.vitorsapienza.com.br