Celebramos a festa de Cristo Rei. É a última semana do ano litúrgico. Estamos às portas do novo ano litúrgico, que se abre com o advento, e quer ser a coroa de toda a caminhada das comunidades ao longo do ano. O ano litúrgico termina proclamando que Jesus é rei do universo.
A festa de Cristo Rei acontece todos os anos. E a cada ano temos um trecho do Evangelho falando da realeza de Jesus. O texto de hoje pertence ao Evangelho de Mateus (25, 31-46). Jesus é apresentado como o mestre da Justiça. Ele exige que superemos a justiça dos doutores da lei e fariseus. Pede que busquemos em primeiro lugar o reino e sua justiça.
O Evangelho mostra dois grupos que se apresentam diante do filho do homem, ou seja, diante do Jesus juiz. Quem são? O grupo dos justos ou honestos e dos injustos ou desonestos.
Os justos ficarão à direita de Jesus, serão convidados a se aproximar dele, que os chama de abençoados. Os injustos ficarão à esquerda, serão afastados para longe de Jesus, que se chama de malditos.
A primeira vista parece que o juízo final não fale de justiça. Mas a conclusão não deixa dúvidas. Os justos irão a vida eterna. Há, portanto, uma nítida separação: de um lado quem agiu conforme a justiça do Reino (os abençoados pelo Pai), e por outro quem deixou sua vida percorrer as estradas da injustiça e são chamados de malditos.
O julgamento é, pois, a revelação última do sentido de nossas ações a favor ou contra a justiça do Reino que devemos, com Jesus, construir em nossa sociedade a história. Jesus e só ele, irá separar uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. As ovelhas, isto é, os justos, os honestos, os abençoados pelo Pai, ficarão à direita dele, lugar privilegiado e sinal de salvação, enquanto os cabritos, ou seja, os injustos, os desonestos, os malditos, ficarão à esquerda, sinal de condenação.
O prêmio concedido aos justos é o Reino definitivo, porque eles ocuparam sua vida na promoção e defesa dos direitos de quem passa fome e sede repartindo com eles o alimento. Repartiram sua casa com os estrangeiros que não tem onde morar, nem direitos e proteção, partilharam a roupa com quem não tinha o que vestir, sendo compassivos com os que sofrem limitações por causa da doença ou foram privados da liberdade (presos). Em outras palavras, foram portadores concretos de felicidade aos afligidos.
O interessante é que os justos ignoram ter ajudados o filho do homem na pessoa dos empobrecidos. Por isso é que perguntam, impressionados. Senhor quando foi que fizemos isso a você? É que a justiça do Reino não pode ser calculada nem medida segundo nossos critérios.
Nós esbarramos a todo momento com marginalizados e injustiçados e às vezes por motivos religiosos ou preconceitos não descobrimos o filho do homem escondido nos seus irmãos menores.
Os fariseus e doutores da lei é que calculavam e mediam sua justiça. E por causa disso se afastavam do Reino. De fato, eles odiavam o povo porque, segundo eles, era ignorante, impuro, pecador.
O mestre da justiça iniciou suas atividades libertadora na Galiléia dos que não são judeus, no meio do povo que vivia nas trevas e na região escura da morte. Os benditos do Pai são, portanto, os que lutam por um mundo justo e fraterno, sem discriminação nem desigualdades.
Os que sustentam o sistema injusto também se assustam porque devem ir para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos, e perguntam: Senhor quando foi que te vimos com fome ou com sede, como estrangeiro, ou sem roupa, doente ou preso e não te servimos?
Isto aconteceu justamente quando deixaram de servir à causa da justiça, pois não servir é tão grave quanto ser criminoso. Não lutar pela justiça è ser cúmplice de todas as injustiças que se cometem contra os irmãos menores do filho do homem.
Talvez esses malditos tivessem boas intenções. Pode ser até que fossem pessoas piedosas. Mas o evangelho nos mostra que a piedade divina se traduz em misericórdia e solidariedade para com os marginalizados. O filho do homem não exigiu nada para si, nem culto, nem orações, nem oratória, mas solidariedade prática traduzida na partilha dos bens.
O diabo, que tentou Jesus no deserto, é o espírito da não partilha e da não solidariedade. Jesus venceu o diabo do acúmulo, da abundância e do prestígio. Não lutar pela justiça é servir ao ele (diabo), ainda que tentemos esconder essa farsa com a aparência da piedade.
A realeza de Cristo não estará completa enquanto seus irmãos menores não tiverem liberdade e vida. A mudança dessas realidades depende da sensibilidade, solidariedade e serviço dos que decidiram seguir o mestre da Justiça.
Não precisamos temer surpresas ao final de nossas vidas. A prática da justiça ou a prática da injustiça irão tecendo diariamente nosso julgamento final. É preciso, pois, decidir agora o que fazer.
*Contador, coordenador Comunidade Eclesial Base (CEB´s), ministro da palavra e Celebração, Igreja Matriz N. S. Aparecida, em Dracena.