Imaginemos que estamos em um campo e que, para nossa sobrevivência, tenhamos que colher batatas com as próprias mãos, pois o esforço, e apenas este, nos confere a nutrição necessária para ficarmos em pé. Agora imaginemos que estivéssemos ficando subnutridos, pois para facilitar nosso trabalho, nos fosse dado o alimento pronto no prato, pulando a etapa principal para a aquisição de nutrientes.
É isso que a escritora Patrícia Engel Secco tem como meta, subnutrir brasileiros alfabetizados, com pouco acesso à leitura, através da facilitação de obras de autores clássicos brasileiros, entre eles, Machado de Assis. A escritora tem trabalhado na escrita facilitada das obras e argumenta que as frases de Machado possuem palavras de difícil compreensão atualmente e que para haver um maior interesse de leitores, sua prática facilitaria o primeiro contato com obras machadianas.
Machado de Assis constrói frases simples, seus períodos são curtos e seu vocabulário não é difícil, tendo apenas algumas palavras que caíram em desuso com o passar do tempo. Para facilitar sua compreensão, o uso de notas de explicação é suficiente, mantendo assim o texto original e esclarecendo termos antigos e não mais usados. Além disso, a obra machadiana tem como característica a ironia, que dialoga com o leitor através de metalinguagens e intertextualidades em textos de alta qualidade, que reescritos perderiam seu teor, excluindo ainda do leitor o processo de aquisição vocabular e cultural, essencial fonte de conhecimento, que é fundamental para desenvolvimento humano.
Portanto, subnutrição não nos mantém em pé; a colheita feita pelas próprias mãos, sim. Deixem a nós, leitores, o trabalho de colhermos nossas batatas!
*Aluno do curso pré-vestibular noturno do Colégio Objetivo de Dracena.