Há algum tempo que estamos ouvindo que o dólar não é o único fator na queda da produção industrial, tanto no Brasil como na Argentina. Essa situação passa por um conjunto de pequenas e grandes questões que causaram a destruição ou desconstrução (palavra muito usada ultimamente) da indústria; além disso, a taxa de câmbio é um componente muito importante e não adianta corrigir apenas este ponto; se somente ele é corrigido e os outros não são, em breve estaremos no mesmo lugar ou pior. Além deste fator, há aqueles que dizem que a indústria não aproveitou a tecnologia disponível com um dólar muito barato.
Na Coréia do Sul, Cingapura, Indonésia, etc., de 72% a 73 % dos produtos industriais são incorporados nas cadeias de produção. Ou seja, um produto final tem componentes de muitas origens e quem não se engajou neste sistema, está fora e podemos dizer até, que está fora do mundo. Os países que decidiram participar desta nova era industrial, começaram a investir principalmente, em educação adequada e aceitaram que eles tinham que começar a fazê-lo em níveis próximos a 20% do PIB.
Já os Estados Unidos, o Japão e alguns países europeus, que marcaram o ritmo da inovação, têm, portanto, o que é comumente chamado de “tecnologia atualizada”. Assim, a China, Coréia e os outros tiveram que investir pesado em educação para alcançar rapidamente o nível de processos competitivos que levam ao primeiro mundo.
Em um primeiro momento, estes países emergentes usaram a sua mão de obra barata, câmbios forjados, subvenções, cópias de patentes e todos os dispositivos válidos e ainda não muito éticos para chegar a este patamar. Os que não chegaram, estão próximos, visto que se baseiam em uma política de estado associada ao capital de investimento. E essas políticas são respeitadas e cumpridas, gerando confiança entre todas as partes.
Outro ponto que nos tirou do jogo e prejudicou nossa economia foram os custos de logística (portos, frete, carga, o desembarque, a manipulação, etc.) que são praticados no mundo, até 10 vezes menores dos nossos e, para afastarmos mais ainda dos países desse novo mundo, a nossa burocracia é muito mais complexa do que as dos países emergentes da Ásia e os outros países europeus.
Sentimos que as soluções atuais devem ser abordadas a partir de uma perspectiva diferente, aproveitando os conceitos, mas com critérios mais atualizados. As coisas mudaram, houve muita inovação e haverá cada vez mais e, teremos que aprender essa forma de pensar e de fazer as coisas.
Se a qualquer momento nossos governantes enchem a boca dizendo que aqui não nos falta nada, que temos todas as matérias-primas, ou quase todas, que temos todos os tipos de energia (sim, reservas abundantes, sem explorar e sem dinheiro), que temos as maiores reservas de água e aquíferos do mundo, que nós temos capacidade de produzir comida para alimentar toda a humanidade e uma série de outros discursos de grande exposição, é bom lembrar que tudo isso existe sim, mas tem que ser extraído e produzido.
Vejo e sei que temos a possibilidade de fazer tudo isso e muito mais, porém, não esta sendo feito muita coisa. Temos pessoas boas e trabalhadoras, não temos guerras, nem terremotos, é tudo muito lindo, fantástico, maravilhoso, mas, nada está acontecendo. Alguns dizem: “Ah, não importa, a tecnologia se compra e está resolvido”. Ok, mas quanto menos talento se tem, o custo da tecnologia aumenta em forma proporcional. Enfim, temos que encarar a nossa realidade. Parece que saímos do mundo e agora não estamos achando a porta para entrar novamente.
Assim como as empresas automobilísticas 40 anos atrás atraídas pelos princípios de Aladi, criaram plataformas para produzir automóveis dentro de um novo conceito, aqui também temos que começar a construir novos modelos de conhecimento, de políticas industriais, de bases de investimentos, de energia (de todos os tipos), de commodities, etc.
Devemos analisar cada segmento, seja de produção industrial, seja de serviços, agrícola ou de qualquer outra forma, e analisar minuciosamente as nossas fortalezas e as nossas deficiências, uma por uma, e principalmente olhando para a demanda futura. E tudo isto deve ser analisado e estudado com visão estratégica de integração.
Por que a integração? Porque temos que achar as portas de reentrada ao mundo, temos que nos inserir em cadeias de produção onde possamos ser competitivos, mas priorizando acima de tudo, a integração entre os nossos países, sem deixar de participar do resto das cadeias possíveis. Fazendo as coisas em conjunto, os investimentos serão compartilhados, os talentos serão somados, as escalas nos possibilitarão sermos competitivos, a confiança em nossos países será melhorada e assim, mais portas se abrirão para retomar a entrada ao mundo e participar dessas cadeias produtivas.
A Câmara de Comércio Argentino Brasileira se dispõe a ajudar a construir essas estratégicas plataformas e participar assim, dessa grande oportunidade.
*presidente da Câmara de Comércio Argentino Brasileira.