César Rocha*
O guarda-chuvas que empunhava, de pronto, esclareceria que não estava utilizando bicicleta naquela locomoção. Saindo do consultório médico, andou lentamente os cerca de trezentos metros que o separava do automóvel, em um estacionamento alternativo. Teóricos utilitaristas da organização urbana defendem que essas caminhadas são benéficas para a saúde em geral, uma maneira forçada de se fazer algum exercício físico no dia a dia de quem não tem tempo para tal. Afinal, o deslocamento viário absorve muito tempo do cidadão atualmente, roubando-lhe o direito de o desfrutar melhor, como preconizavam os futuristas de 60-80 anos atrás, prevendo que “no ano 2000 as pessoas trabalharão menos, dispondo de mais tempo para o lazer…” Pois sim!
Com o que ele discordava, pois o caminhar lento, associado à contrariedade de não ter tido a sorte de quem achou vaga ali bem pertinho, se referindo aos carros por entre os quais se deslocava, desviando-se aqui e ali, saltitando entre as poças provocadas pela chuva que despencava lá do céu…
Para ele, estacionar tão longe de seu destino significava tão somente um mal planejamento urbano e viário, pois aquela região de sua cidade onde só existiam hospitais, clínicas e o comércio afim, deveria oferecer muito mais vagas de estacionamento. Gratuito ou a um preço inferior, bem inferior aos praticados em áreas de lazer e consumo, dos shopping center, por exemplo, para onde se dirige por lazer e comodidade. Ao passo que, se deslocar para uma clínica ou hospital, indubitavelmente feito a contragosto, merecia acesso bem mais facilitado, mormente naquela cidade dita modelo em planejamento urbano.
Pensou em tudo isso até chegar ao seu automóvel, que lhe parecia o submarino dos Beatles, até mesmo pelo design. (Teria saído dali a inspiração de quem o desenhou? Talvez, né!?). No entanto, pensava, o desconforto que o carrinho lhe oferecia, lembrava-lhe mais um submarino não pelo romantismo que a música evocava, mais por ser apertado como todo submarino aparenta ser, ele imaginava apenas, pois nunca vira um de perto, somente em filmes. Talvez o único submergível com bastante espaço interno fosse o Nautilus, do Capitão Nemo, de ficção.
De encontro ao desconforto do habitáculo de seu carrinho, vinha o de dirigir até sua casa, ele calculou olhando paras as vias próximas, cheias de carros engarrafados no trânsito; vocês sabem como é um dia de chuva forte em qualquer cidade grande, mesmo que não ofereçam aqueles espetáculos de cidades como SP e RJ, com carros boiando e os repórteres da TV perguntando a algum morador desalojado de sua casa como ele se sente, se perdeu muita coisa e tal.
Calculou que levaria bem mais tempo para chegar em casa de carro naquele dia, do que o fazia normalmente pedalando. Com esses pensamentos e constatações prometeu-se não mais agendar compromisso longe de casa em tempos de chuva, usaria tal tempo mais proveitosamente, bebericando um vinho ou cerveja, ou lendo ou escrevendo.
*Técnico em informática e ciclista que pedalou por diversas cidades do estado de São Paulo.