As pessoas estão sendo bombardeadas diuturnamente por notícias de propinas dadas a candidatos em época de eleições. Como, preferencialmente, são citados nomes do PT, a aparência de que com outros partidos nada acontece de errado fica patente.
No entanto, ninguém fica isento, quando investigado, uma vez que a forma como se dão as eleições atualmente obriga a uma relação espúria entre o público e o privado.
As eleições, no Brasil, custam caríssimo e candidato nenhum, nem mesmo partido, tem a possibilidade de custeá-las. Quando se trata de pleitos municipais, dependendo do tamanho do município, o candidato já não tem condições de bancar as despesas de sua candidatura.
Agora, em se tratando de municípios grandes, estados ou união, então, já está fora de cogitação que o candidato ou partido, por mais rico que seja, possa bancar as despesas. Como a lei permite doações de empresas para o custeio das eleições, os empresários são procurados e, muitos, solicitamente, atendem aos pedidos dos candidatos.
Já se falou muito em campanha paga somente com dinheiro público. Esse assunto já rodou no Congresso, mas foi rechaçado pelos deputados e senadores, pois teriam que fazer campanhas bem modestas. Muitos querem mesmo a participação dos empresários para fazerem algo colossal, mesmo que isso implique numa série de problemas.
Assim, as campanhas estão saindo por um preço astronômico, coisa que há bem pouco tempo era difícil de imaginar. Segue uma relação das despesas declaradas nas eleições de 2014:
Dilma Rousseff (PT) arrecadou doações de R$ 318 milhões em dinheiro. Aécio Neves (PSDB) captou R$ 201 milhões, Marina Silva, R$61 milhões. Segundo dados divulgados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a soma de gastos das campanhas de todos os candidatos registrados na Justiça Eleitoral das eleições de 2014 foi de R$73,9 bilhões. O dinheiro seria suficiente para organizar três Copas do Mundo, pois o Mundial do ano passado teve um custo total de R$ 25,8 bilhões, considerando os gastos nas três esferas (União, Estados e municípios).
A campanha “mais barata” é a de deputado estadual, com média de gastos de R$ 2,4 milhões, seguida de deputado federal (R$ 3,6 milhões), deputado distrital (R$ 5,4 milhões) e senador (R$ 5,6 milhões).
O governador do Estado de São Paulo, que foi candidato à reeleição, Geraldo Alckmin (PSDB), recebeu R$ 4 milhões em doações para sua campanha eleitoral de três empresas que são investigadas por fraudes e formação de cartel em licitações do metrô de São Paulo e do Distrito Federal. O valor corresponde a 70% do total arrecadado pelo candidato (R$ 5,7 milhões). Duas das empresas doadoras já são rés em processos na Justiça: a construtora Queiroz Galvão e a CR Almeida S/A Engenharia de Obras, que doaram respectivamente R$ 2 milhões e R$ 1 milhão.
Será que as pessoas têm noção do que vem a ser tantos milhões de reais? Um empresário que faz uma doação desse porte a um candidato, seja ele quem for, não estará pensando em reaver toda essa dinheirama com juros e correção?
E a cobrança vem. Passadas as eleições, aqueles que forem eleitos receberão a visita de seus doadores e a proposta de participarem dos empreendimentos realizados pelo Estado. E, aí? Como dizer: não, a quem se deve tanto? E, logicamente, a obra que custaria um valor, terá um sobre preço para compensar a doação feita.
Já foi apresentado na Câmara dos Deputados, um projeto de lei que permitia somente o financiamento de campanha pelo poder público. Logicamente, as campanhas teriam que ser simples, econômicas, apenas mostrando os candidatos e suas plataformas de governo. Porém, esse projeto foi rechaçado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e seus companheiros.
E assim, continua esse sistema perdulário, espúrio em que todos os candidatos acabam ficando nas mãos daqueles que financiam suas campanhas. A operação Lava-Jato e outras do mesmo tipo, na realidade, são operações “enxuga-gelo”, uma vez que as causas não sendo alteradas, os resultados serão sempre os mesmos.
Até quarta-feira
therezapitta@uol.com.br
-Dracena-