A visita da presidente Dilma aos EUA se deu “in extreme”, dada sua baixíssima popularidade, num “status” quase agônico como titular do principal cargo político brasileiro. O Presidente Obama, evidentemente, não considerou tal aspecto interno em sua interação com a mandatária brasileira, até porque o importante para os EUA é transmitir, não só ao Brasil, mas à América Latina, três importantes aspectos: (a) a percepção da viabilidade de aproximação dos EUA com todas as Américas; (b) consequente qualificação da competividade dos EUA com a China e (c) especificamente em relação ao Brasil, o trato da sustentabilidade ambiental.
Os dois primeiros pontos, cuja abordagem não dependem unicamente do Brasil, dizem respeito à política, à economia e ao equilíbrio de forças no mundo. A China não perdeu tempo em prestar auxílio ao Brasil depauperado, ciente de que nossa opinião pública não se postaria contra o “imperalismo chinês”. E os EUA, em tempos de convalescença, precisa da união dos países e dos povos americanos para equilibrar o jogo internacional.
Contudo, aperfeiçoar relações com os países da América Central e do Sul não é coisa simples, malgrado a declaração de Obama de que “estamos comprometidos com a região como não estávamos há décadas”. Esse compromisso, com efeito, revela novos tempos. Com efeito, as bandeiras norte-americanas não ardem tanto nas ruas da América do Sul. A ressalva corresponde aos governos bolivarianos e aos comprometidos com a cocaína e as armas. Porém, essas governanças a cada dia ficam mais débeis, como bem percebeu a enferma Dilma Rousseff. Os erros do passado, nos governos Lula e Dilma, de todo modo, ainda são um pesadelo, até porque não veio à tona nenhum sinal de rompimento com as diretivas canhestras dos governos da Venezuela e da Bolívia.
E os 22 governos do sul deram com os burros n’água com a Unasul. Em momento indicativo de um equivocado “deblace” dos EUA e da União Europeia, tudo dizia que as esquerdas do mundo inteiro tomariam corpo. Num determinado dia foi anunciado o fim do capitalismo, não de um ciclo que lhe é inerente. A União das Nações Sul-Americanas serviu apenas para desnudar as feridas do continente, desde sua criação, em 2006, em Brasília. Ficaram evidentes as dificuldades para a construção de um sistema de coordenação política, econômica e social, e mais ainda uma hipotética união dos povos, inobstante as declarações levianas e românticas de Lula, Hugo Chávez e Nicolás Maduro.
A Unasul não se mostrou à altura de mediar os conflitos entre Chile e Peru em torno de uma solúvel pendência territorial e entre a Bolívia, que pretende uma saída para o mar, e o Chile.
O povo trabalhador de todos os países não sentiu melhoras. Para o homem comum, tudo não passou de retórica.

Portanto, a intenção do governo Obama é elogiável, mas os desafios são enormes. O ideal seria uma Unidade Americana. Para tanto, é requisito a continuidade da distenção ideológica entre os países situados abaixo do Rio Grande e o “grande irmão” do Norte. A heterogeneidade entre as nações não é óbice intransponível, como bem demonstrou a Europa, em que pese a crise grega, não obstante a vitória desassombrada do “não”, temerária queda de braços induzida por uma política xenófoba e de míseras perspectivas. A mesma emplacada em nossa América aos governos que optaram pelo socialismo da miséria, de cuja órbita Dilma parece, agora, querer sair. Não sabemos se conseguirá. O momento nunca foi tão propício à implantação de uma democracia sólida em todas as Américas, de solução de conflitos nacionais e de uma unidade territorial ampla e capaz de trazer equilíbrio ao mundo. Tudo depende dos ventos políticos no interior dos países interessados, inclusive nos EUA.

* é advogado especialista em Direito Constitucional, Civil, Tributário e Coletivo do Trabalho.