A única certeza do mundo contemporâneo é a incerteza. Mas a mudança é hoje muito mais rápida do que em outra época. Basta verificar algumas coisas. O fenômeno Uber não ocorre só aqui no Brasil. Os taxistas de Londres também estão mal humorados. Também os hoteleiros disputam a busca por quartos com o Airbnb, que loca espaço em casas particulares. Os fabricantes de computadores encontram concorrência com os provedores de computação na nuvem. A TV digladia com a internet. Os jornais já não precisam ser folheados. Revistas semanais ou mensais desaparecem como moscas fulminadas por inseticida.
A reinvenção é a regra e quem não perceber perecerá. Onde estão hoje os que viviam dos outdoors que enfeavam a capital paulista? Sobreviveram com a exploração de outros nichos. E aqueles que, mais remotamente, fabricavam papel carbono? E o mata-borrão? E os filmes das antigas máquinas fotográficas? E elas mesmas? E as máquinas de datilografia?
Tudo muda. Tudo passa. Pode ser que demore, mas dia chegará em que as pessoas perceberão que não têm todo o tempo do mundo para aguardar decisões da Justiça. Decisões muitas vezes periféricas. Acabam com o processo, dando uma resposta meramente procedimental, formalística ou processual em sentido estrito. Mas o problema continua lá. Agravado pela sensação de perda de tempo e de dinheiro. Frustração por haver confiado no Judiciário e ter dele recebido uma resposta incompleta. Ininteligível se não houver um decodificador para dizer o que aconteceu com um prejuízo concreto, uma dor consistente, uma honra que só o lesado sabe avaliar.
Os conflitos de interesse, as preocupações, as aflições derivadas de um convívio difícil, a par de machucarem a alma, custam dinheiro. E dinheiro custa a ganhar.
Aos poucos, descobrir-se-á que alinhar interesses, forjar-se uma cultura do diálogo que valorize o comprometimento com a franqueza e a camaradagem, trará menos dissabores do que ingressar em juízo. Este ingresso poderá ser inevitável, mas, antes do passo fatal, haverá de se tentar um acordo. Conciliar é a solução. Litigar pode ser um problema a mais. A não ser para quem não tem razão, não quer honrar suas obrigações e tem todo o tempo do mundo para exasperar a parte contrária.
Mas não é para estes que o Judiciário procura disseminar a cultura da conciliação, da negociação, da mediação e de outras estratégias que realmente significam a pacificação, não o incremento do mundo desumano do processo: todos contra todos e todos perdendo a final.
*presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo.