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Ai que saudade que sinto, da nossa velha palhoça, dos anos que não voltam mais, da minha infância na roça. Era uma casa pequenina: dois quartos, sala, cozinha, uma varanda, duas camas, colchão de palha e travesseiros de painas.
Um guarda roupa tão pequeno, roupas dobradas em empilha, uma rede pra um dormir, um berço que não me cabia, eram em catorze irmãos que a tuia nos dividia.
Tinha um fogão de lenha, uma prateleira, um pote, na sala um bufê, uma mesa quadrada… Quatro cadeira de palha, pequeno rádio de pilha, lamparina a querosene, um pé de bode que gemia. Era o meu velho pai sanfoneiro, que ao luar no terreiro, tocava enquanto nós corríamos, brincando de esconde-esconde, atrás da tuia, lá no chiqueiro dos porcos, deitados no terreiro de café, entre as sacarias.
Ali era tudo muito simples, tinha um poço artesanal, banhávamos em uma bacia molhando com canecão…
A comida era gostosa: Galinhada, porco caipira, no taxo. De manhã era escaldado, farinha com café quente ou com melado de cana, ou a nossa rapadura, gostosa, a pura cana.
O almoço era na roça, todos sentados no chão, na sombra de alguma árvore ou em nosso cafezal. À noite escutávamos causos, que o nossos velhos pais contavam, história de assombração, era o que não faltava.
As brincadeiras de roda, e também passar anel, catira dos dois irmãos, os mais nobres violeiros. Tantos eram os aprendizados, que deles eu me embaso, nos meus quadrinhos/ cordéis.
Também tinha Lampião, o velho rei do cangaço, folclore era o que mais tinha, ficávamos extasiados.
Sinto saudades dos cocos, das moitas de bambuzais, os pés de farinhas secas, e os jabuticabais… o lindo pé de ipê roxo, o engenho, a garapa, a rapadura no taxo. O velho carro de boi, dos bois Triângulo e o Faceiro, Estrelo e Maranhão, que muito contribuíram, para lavrar esse chão.
Ai que saudade eu sinto, dos forrós no terreiro de café, onde juntava as famílias, essa turma busca pé: Era o pé de bode, reco-reco e colher, afoxé e frigideira, triângulo, pandeiro e cavaquinho, muita cachaça…E…É. Ia até o amanhecer, era o sertão nordestino, manifestando o viver.
Saudades da minha infância…Vida que me deu prazer. A nobre mãe natureza, sede da sabedoria, que me ensinou a ser.
*Professora de Arte, Artes Cênicas, Pedagogia e Rádio.
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