Em estado de alerta máximo contra ataques terroristas, Paris é a sede da 21ª Conferência das Partes – COP 21 – nos próximos dias. Com o intuito de discutir as mudanças climáticas globais e estabelecer uma agenda de ações para diminuir as emissões dos gases do efeito estufa na atmosfera, chefes e representantes de Estado estão reunidos na capital francesa, preocupados com as mudanças climáticas. Contudo, sem perder o foco dos ataques e ameaças terroristas no mundo e das tensões geopolíticas que não se encerram no leste europeu, norte da África e Oriente Médio.
Em um quadro de grandes tensões e incertezas andamos por um terreno pantanoso e sem uma clara direção, onde os passos são difíceis e o horizonte turvo. Se a partir da última década do século XX fomos tomados por uma certa euforia, a realidade desse início de milênio é bem diferente. Naquele momento, havia a esperança de que com o fim da Guerra Fria os conflitos bélicos se dissipariam e as tensões geopolíticas se tornariam menores e, dessa maneira, caminharíamos para um mundo mais seguro. Também na última década do século XX, a ECO 92 nos encheu de expectativas positivas. A maior conferência de meio ambiente com a presença de chefes de Estado até então realizada, a ratificação pelas partes da Agenda 21, estabelecimento da Convenção sobre a Biodiversidade, conferências sobre as mudanças climáticas, enfim algo nos aventava mudanças substantivas.
No entanto, “a brisa dos novos tempos” já nos trouxe odores azedos indicativos de que algo não andava bem. Guerras nos Bálcãs, genocídio em Ruanda, guerra do golfo, guerra do Iraque, guerra contra o terror, mostraram que nossa euforia pode ter sido precipitada e ingênua. No campo ambiental, especificamente em relação ao clima, a despeito da regularidade das reuniões e dos amplos debates, acordos substantivos pouco fluíram e a concretização das metas de redução das emissões dos gases do efeito estufa estão longe de se concretizarem, muito pelo contrário as emissões tem aumentado.
Apesar dos cenários negativos apontados pelo Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC – e do reconhecimento das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas” discutidas na COP 19, os interesses individuais de cada país freiam os acordos e as COP’s parecem fracassarem ao produzir textos genéricos e não conseguir introduzir instrumentos legais que balizem mudanças de fato.
Os eixos apresentados, cuja intersecção se dá em diferentes escalas espaciais – que vão do local ao global -, nos mostra algo perturbador no século XXI. Apesar da intensa globalização, não conseguimos resolver problemas globais. Nessas questões urgentes o Estado é chamado a ser protagonista das ações, mas esse parece ser um dos seus grandes infernos, dado que os problemas extrapolam seu território e escancaram seus limites de ação. Mesmo os mediadores desse diálogo – aqui a ONU aparece em posição de destaque – não tem sido capaz de aglutinar e direcionar ações efetivas. Neste sentido, é quase inevitável um certo pessimismo com a COP 21. Espero ser contrariado, mas ao final dessa reunião, creio que o que irá imperar é a falta de acordos e compromissos com metas claras e, mais uma vez, a estase nas ações. Olhando para dentro, é salutar nos prepararmos para as mudanças climáticas desse próximo século.
*Geógrafo do Departamento de Antropologia, Política e Filosofia da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara.