Em 2015, o papa Francisco publicou a encíclica Laudato Si’ (louvado seja) apresentando novo conceito de ecologia, por ele denominado de ecologia integral. As duas citações a seguir servem para melhor entender o tema.

“A ecologia estuda as relações entre os organismos vivos e o meio ambiente onde se desenvolvem. E isto exige que se pare para pensar e discutir acerca das condições de vida e de sobrevivência de uma sociedade, com a honestidade de pôr em questão modelos de desenvolvimento produção e consumo. (…) Dado que tudo está intimamente relacionado e que os problemas atuais requerem um olhar que leve em conta todos os aspectos da crise mundial, proponho que nos detenhamos agora a refletir sobre os diferentes elementos de uma ecologia integral que inclua claramente as dimensões humanas e sociais.” (Francisco, 2015, p. 85)
O conceito é novo, mas o tema já preocupa há alguns anos. O teólogo Leonardo Boff apresentou discussão semelhante, na obra Saber Cuidar, publicada em 1999, e em seguida na Ética da Vida. No primeiro livro está preocupado com “a compaixão pela terra” e no segundo, com o modelo de conduta humana voltada para equacionar as contradições entre a crescente necessidade de consumo de energias naturais para o desenvolvimento do mercado de produção mundial e a sustentabilidade da vida, especialmente em longo prazo.
A partir dos anos 60 a preocupação com o discurso do desenvolvimento economicamente sustentável ganha força. Isto é, que o crescimento acelerado em determinado momento da história não restasse em escassez ou inexistência de matéria-prima para as novas gerações de empreendedores. A problemática evoluiu e hoje se fala do desenvolvimento das condições materiais de produção considerando a sustentabilidade da vida. A principal matéria-prima do processo produtivo é a energia em suas muitas manifestações e formas, a mesma energia essencial para a manutenção da vida. O consumo exagerado e não planejado pode expor a vida a muitos riscos.
Nem o papa, nem o teólogo acima citados são profetas do apocalipse ou poetas do atraso. O conceito de ecologia integral surge como proposta de equação entre a necessidade de desenvolvimento produtivo como mecanismo para a melhoria da qualidade de vida diante da cada vez mais conhecida limitação dos recursos naturais. O que se quer é produzir bem para produzir sempre.
A revolução científica entendia a natureza como o condenado amarrado no leito de Procusto pronto para ser dilacerado em dolorosa morte. Certa herança equivocada do cristianismo apresentava a natureza como fonte inesgotável de energia renovada frequentemente por Deus. A Revolução Científica rompeu com o Teocentrismo, mas manteve a noção da infinitude dos recursos a serem explorados pelo homem. Homem e natureza eram verdadeiros inimigos e o desenvolvimento dependeria da forma como, através da ciência, as forças naturais fossem completamente dominadas. Assim, o desenvolvimento econômico implicaria na destruição da natureza.
Demoraram cinco séculos para a superação daquele paradigma. Hoje não há mais dúvida que o homem não é adversário da natureza, ao contrário, ele faz parte do meio ambiente. O homem não é o explorador dos recursos inesgotáveis da natureza, mas o cuidador consciente para evitar a escassez e possibilitar a renovação dos recursos. Isto não impede a busca constante na melhoria das condições econômicas e aumento da produtividade através dos empreendimentos alimentados permanentemente pelos recursos naturais.
O equilíbrio está na ponderação entre o desenvolvimento da produção e do consumo com a necessidade de preservação da vida e sobrevivência da sociedade. O mecanismo para isto é o cuidado. Para Boff, a falta de cuidado é o grande estigma de nosso tempo. Não o cuidado da militância radicalizada contra o desenvolvimento econômico, mas o cuidado “como modo-de-ser essencial”. Segundo ele, o cuidado não pode ser patológico. Cuidar demais vira obsessão; sua carência transforma-se em descuido.
A ecologia integral considera o homem como parte do meio ambiente e diretamente impactado por tudo aquilo que acontece com a natureza. O homem é um organismo vivo inserido no meio ambiente como os demais seres. A grande diferença é sua consciência da vida e das consequências de seus atos.
O desenvolvimento com sustentabilidade da vida exige novo conceito de bem comum. A Encíclica Laudato Si’, do papa Francisco, apresenta o meio ambiente como o mais comum de todos os bens, patrimônio coletivo e difuso da geração presente e das gerações futuras. A legislação internacional e as leis dos Estados são necessárias, mas insuficientes para o respeito à vida em todas as suas manifestações. Quando falta a consciência de cada cidadão sobre sua responsabilidade com a Casa Comum inicia a via sacra dolorosa do meio ambiente.

 

*Professor da Faculdade REGES de Dracena; doutorando em Direito pela Instituição Toledo de Ensino (ITE-BAURU).