Ao tomar contato com o artigo “Universidade para quê?”, de Oded Grajew, em jornal de grande circulação nacional, a primeira reação foi um grande susto, seguido de forte arrepio face à preocupação sobre se alguém ainda tem dúvida da importância das universidades, sobretudo as públicas estaduais e federais, para a formação de gente capacitada e para a extensão à sociedade do conhecimento produzido, claros diferenciais para o desenvolvimento intelectual, social, tecnológico, cultural e até econômico do país.

A leitura mais acurada do artigo nos tranquilizou porque reflete sobre a importância da existência das universidades, porém deixa o sentimento de que haveria uma participação menor da universidade e de seu quadro (docentes, pesquisadores, servidores técnico-administrativos e discentes) na melhoria de vida das pessoas, dos municípios, dos estados e do país.
É importante salientar que muitos professores, técnicos e alunos das universidades participam com excelentes ideias e projetos que despertam interesse em candidatos nos diferentes níveis da federação. Entretanto, a posterior montagem das equipes, com forte influência política-partidária, a lógica dos acordos e interesses políticos, notadamente com vistas ao sucesso nas eleições seguintes, tem costumeiramente o efeito de personalizar os projetos ou mesmo desvirtuá-los sobremaneira.
As boas ideias colocadas por técnicos capacitados das universidades ficam prejudicadas pelos interesses de muitos governantes, e pelas dificuldades orçamentário-financeiras reinantes.
Vale recordar que todos os países desenvolvidos do mundo descobriram, há muito tempo, que as universidades são essenciais e investem fortemente em sua manutenção e crescimento.
No Brasil, as universidades públicas poderiam fazer muito mais pela população que as sustenta, especialmente se os governos colocassem mais claramente o que delas precisam e dessem condições para o desenvolvimento das práticas sugeridas, além de garantir-lhes a perenidade que necessitam para o sucesso delas esperado.
O trabalho dos bons médicos formados pelas universidades públicas, que atendem casos complexos de saúde da população carente apesar das condições de trabalho que enfrentam, dos bons advogados que defendem o interesse público, dos bons engenheiros que visam à qualidade das construções, dos engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas que constituem os alicerces dos melhores sistemas de produção agrícola do país, dos administradores que assumem cargos ou assessorias junto às secretarias e ministérios, além de muitos outros bons profissionais, depende de conjunturas alheias às suas vontades e sobre as quais têm pouca capacidade de influenciar.
A universidade deve ser cobrada, mas não se pode menosprezá-la ou mesmo perder de vista o fato de ela ser fundamental para o desenvolvimento de qualquer nação. Universidade para quê? Para um país melhor.
Cabe, por exemplo, outra questão para reflexão: apesar de todas as dificuldades citadas, o Estado de São Paulo seria o mesmo sem a existência das suas três universidades públicas (Unesp, Unicamp e USP)?

*reitor da Unesp.