Texto dramático imagina como seria a última noite de Dilma Rousseff em Brasília.
Noite. Ameaça de tempestade. Ventos fortes na Esplanada. Proximidades do Palácio do Planalto. De trás de uma árvore sai Dilma desgrenhada, suja, rasgada. Está confusa e cambaleante. Mostra-se assustada.
– Deu tudo errado, eles dizem. Fugi da reunião porque preciso de uma solução urgente para o meu governo e a melhor forma de não se tomar decisão alguma é fazer uma reunião. Preciso de uma saída pra crise. Não consegui derrubar o regime militar. Não consegui ficar com a fortuna do cofre do Adhemar. Nem minha loja de R$ 1,99 deu certo lá em Porto Alegre… Mas minha presidência vai dar! Vou voltar forte, vou voltar nos braços do povo. Ainda vou ser lembrada como presidenta totalmente excelenta!
O vento uiva e começa a chover. – Se o PT não concordar, dane-se o PT. O PT foi minha ruína. Eu nunca fui petista. O Lula é um fardo que eu carreguei e não carrego mais. Aquele sapo barbudo eu não engulo. Meu ídolo é o Brizola. Meu partido, o PDT. Oh, Brizola, onde estás que não respondes? Porque me abandonaste? Me diga o que fazer Brizola, me diga o que fazer Alceu Collares… Me mandem mensagens pelo tuíte…
Chuva forte. – Caia, chuva. Assoprem ventos de todos os lugares, que só querem minha renúncia. No seu uivo eu ouço renúúúúúncia e estremeço… Vou já para o meu gabinete preparar um plano para tirar o Brasil da crise. Vou chamar o Mangabeira Unger para me ajudar. Só ele que nem fala português direito, só ele me entende e sabe o que eu quero. Preciso de um projeto e ele faz projeto sobre qualquer assunto, não importa o assunto.
Tenta subir a rampa, mas é barrada por um Dragão da Independência que não a reconhece.
– O que? Me impedem de chegar na minha sala lá do terceiro andar? Quem manda neste país sou eu! Não é o Lula! Eu não tenho nada a ver com as falcatruas do Lula. Minha história é outra. Sou limpa! O Fernando Henrique disse que eu sou direit, ops, que eu sou honesta! O FHC me deu uma certidão de honestidade.
Abriga-se embaixo do palácio, próximo ao espelho d´água.
– Eu preciso achar dinheiro. Preciso de dinheiro pra pagar o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o FIES, que não posso cortar. Além disso, tem os milhares de aspones que o PT colocou no governo. Não me deixam cortar despesas, o PMDB não deixa cortar ministérios, então eu preciso de mais dinheiro no caixa do governo. Vou instituir a CPMF, mas ela não dá nem pras despesas da cozinha do Alvorada. Preciso de algo mais forte…
Aproxima-se do espelho que circunda o Planalto.
– Já sei! Vou tirar o petróleo do pré-sal. O Serra não quer deixar eu tirar o petróleo do pré-sal mas eu vou lá. Os ambientalistas dizem que queimar petróleo aumenta o aquecimento global, mas eu estou me lixando pro Al Gore, que nem vice-presidente é mais. Aquele documentário dele nem devia ter ganhado o Oscar. Já me vejo próxima ao mar. Vejo as ondas. Sinto a brisa. Embaixo dessas águas está tudo o que preciso.
Cai na água. – Pronto. O Brasil precisa de mim e eu preciso do petróleo. Vou arrancá-lo lá do fundo com minhas próprias mãos…
Afunda e desaparece. Logo surgem correndo Erenice Guerra e dois policiais que resgatam Dilma. Diz Erenice: – Calma, presidenta, calma. Vamos que o avião está pronto para nos levar a Curitiba.
– Pra Curitiba, não! Pra Curitiba, não!, grita Dilma e cai de novo na água.
Pano rápido.
*professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Unesp de Presidente Prudente.