Quando Dracena foi fundada, chegou até aqui a Companhia Paulista de Estrada de Ferro. Foi a maior festa porque os trens representavam um avanço nos meios de transportes. Haveria, então, dois meios de transportes: o rodoviário e o ferroviário. Mais tarde chegaria até o aeroviário com aviões fazendo escala no aeroporto local. A população era pequena, mas em questão de transporte estava muito bem servida.
Avião sempre foi coisa para rico e, assim, logo foi desativado o aeroporto. Mas os trens supriam as necessidades da região, não só com o transporte de passageiros como também com o escoamento da produção da região. Porém, também acabaram com os trens. Quer saber como? Imagine que você tenha uma casa para alugar e resolva colocá-la em uma imobiliária. Você dá a ela uma procuração por tempo indeterminado e o que ela faz? Aluga sua casa por 30 anos sem que esse inquilino tenha a responsabilidade de devolvê-la em boas condições e com apenas um pagamento no ato da locação.
Em alguns anos o inquilino abandona sua casa, não cuida de nada e ela se deteriora. Assim está estrada de ferro que servia Dracena e região. Podre. Todas as composições apodreceram nas estações abandonadas. Dá dó. Mas é lógico, alguém tinha interesse na desativação da ferrovia. Mas quem? Segundo o sábio professor, José Maria Faria, “trem não gasta pneu”. Logicamente, as indústrias de pneus, que são estrangeiras, têm um interesse enorme em acabar com os trens. Hoje, todo o transporte da produção e de passageiros é feito pelas rodovias, não deixando alternativa à região. E haja pneus e reforma de estradas!
Isso foi resultado da ânsia de privatizações, isto é, venda dos bens do povo, que ocorreu em 1996 no governo FHC, que declarou: “É preciso dizer sempre, e em todo lugar, que este governo não retarda privatização, não é contra nenhuma privatização e vai vender tudo o que der para vender”. E não foi apenas a destruição da ferrovia que o país teve. As privatizações da mineradora estatal Vale do Rio Doce, em 1997, e do sistema Telebrás, em 1998, foram as mais emblemáticas e vultosas. Além de as empresas terem sido subavaliadas, foram entregues com dinheiro em caixa aos que as arremataram em leilões. É como alguém vender uma casa com dinheiro no cofre. Só que tudo isso era do povo.
A fúria das privatizações não foi apenas em nível federal. O Estado de São Paulo, sob o comando de Mario Covas, também vendeu os bens públicos a preço de banana. Antes de privatizar a Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa) Mario Covas, do PSDB, demitiu 10 mil funcionários e fez o contribuinte de São Paulo assumir os custos dos 50 mil aposentados da empresa.
Desde a criação do Programa Estadual de Desestatização (PED), em julho de 1996, setores estratégicos da economia paulista foram “vendidos” a monopólios privados por preços irrisórios. Sob a batuta de Geraldo Alckmin, presidente do PED, foram privatizadas entre outras a Eletropaulo, CPFL, Elektro, Cesp, Comgás, Ceagesp. A alienação deste patrimônio rendeu R$ 35,6 bilhões. Fepasa e Banespa foram federalizados antes de serem privatizados. Os danos à economia foram brutais. No caso do Banespa, ele possuía ativos de R$ 29 bilhões e patrimônio de R$ 11 bilhões. Mas foi “vendido” ao Santander por apenas R$ 7,05 bilhões. Alguém ganhou..
Sem sombra de dúvida, os meios de comunicação, com seu apoio incondicional às privatizações, foram um aliado poderoso. Houve a campanha de desmoralização das estatais e a ladainha do “esgotamento dos recursos do Estado”. O interessante é que nunca se soube do paradeiro do dinheiro arrecadado nas vendas.
Em São Paulo esse pessoal continua ativo e prestigiado em todas as eleições e, em nível de Brasil, parece que estão voltando. Enquanto houver empresas estatais para serem vendidas e gente que os apoia, eles estarão por aí.
Até quarta-feira
-Dracena –