Vivemos em uma sociedade onde a cada dia está mais difícil saber quem somos e o que desejamos. O homem vem sendo controlado pelo que é ditado pelos meios de comunicação, pelo que “todo mundo” gosta, pelo consumismo desenfreado, mas fico sempre refletindo e me perguntando, “todo mundo” quem?
Estamos em meio a uma grande crise de valores, de crenças e de sentimentos. Não sabemos mais o que é liberdade em meio a tantas regras que são ditadas pela sociedade, parece que estamos acorrentados, aprisionados.
Agora é que vem o pior! Quem faz isso comigo e com você? Procure um espelho que estiver próximo a você e terá o grande prazer de conhecê-la. Somos nós mesmos que nos colocamos nesta condição humana degradante, somos nós mesmos que ao fazermos nossas escolhas priorizamos aquilo que é ditado pelo mundo, pelo outro, ou optamos pela não escolha e também nos colocamos nesta mesma condição. Isso mesmo! Como diria Sartre, “a não escolha é uma escolha”. Não pense que não se posicionar te coloca numa condição diferente daqueles que escolhem. Você também é responsável ao não escolher, ao se entregar como um barquinho à deriva na correnteza do rio.
Esse cenário me assusta e espero que comece a preocupar a você. Pois é isso o que venho assistindo nas salas de espera de consultórios e serviços de saúde mental, pessoas que se lamentam pela saúde perdida e que não conseguem compreender os motivos de seu próprio sofrimento.
Muitos de nós andamos por aí sentindo um grande vazio, entediados, sem saber ao certo o que nos coloca nesta condição. E numa busca insana por um sentimento de alívio, de satisfação, de felicidade, buscamos no grupo de amigos, nos prazeres da comida, na bebida, em atividades esportivas radicais, e em tantos outros lugares, um pouco disto que nos falta.
Encontramos? Sim, pelo menos por alguns momentos, por algumas horas. Mas pouco tempo depois, caímos novamente no mesmo lugar entediado, vazio. E aí? E aí, que sem saber o que fazer, repetimos e continuamos repetindo as mesmas atitudes que nos proporcionaram aqueles momentos de alívio ou acabamos desistindo e nos entregando a este modo angustiado de estar no mundo, adoecendo.
Fernando Pessoa dizia “não é o tédio a doença do aborrecimento de nada ter que fazer, mas a doença maior de se sentir que não vale a pena fazer nada”. Chegar neste momento é desesperador. Não acreditar ou encontrar sentido na vida, não acreditar que se tem algo a fazer e que vale a pena é apavorante.
É urgente! Precisamos buscar novos sentidos para a existência humana. Precisamos encontrar um sentido para nossa existência, precisamos encontrar coisas e pessoas pelas quais vale a pena lutar, vale a pena viver.
Segundo Vitor Frankl, “nada proporciona melhor capacidade de superação e resistência aos problemas e dificuldades em geral do que a consciência de ter uma missão a cumprir na vida”. Ou seja, precisamos descobrir nossa missão, onde mora nosso sentido para a vida e pararmos de correr atrás do sentido da vida para os outros, correr atrás de ter o que o outro tem, de viver como o outro vive. Esta é a grande crise vivenciada pelo homem contemporâneo.
Chega! Vamos escrever nossa lista de prioridades. Vamos colocar o nosso nome, o meu e o seu nome em primeiro lugar, vamos conhecer os nossos sonhos, os nossos projetos, os nossos desejos. Vamos dar a eles um lugar de reconhecimento e a possibilidade de realização. Só assim poderemos sair desse lugar entediado, vazio de sentido. Só assim, poderemos caminhar de um modo mais tranquilo pela vida.
Finalizo com uma belíssima frase de um grande homem, poeta, escritor, psicoterapeuta, nosso saudoso Rubem Alves: “Sábios são aqueles que, da multiplicidade, escolhem o essencial. Simplicidade é isso: escolher o essencial”.
Que você possa escolher o essencial, aquilo que verdadeiramente dá sentido a sua vida, e com isso encontre alguns momentos de felicidade.
*professora mestre.