Dia 9 de junho é comemorado o Dia Nacional da Imunização, data cujo objetivo é chamar a atenção para a importância da vacinação na saúde da população. Entre as atividades de saúde pública idealizadas pelo governo brasileiro, o Programa Nacional de Imunizações, criado em 1973 pelo Ministério da Saúde, destaca-se por seus vários êxitos.
Através de campanhas de vacinação coordenadas pela Organização Mundial da Saúde, a varíola, uma mortal doença transmissível que acompanhou a humanidade por milhares de anos, foi erradicada do planeta em 1977 e o último caso registrado no Brasil ocorreu em 1971. A poliomielite ou paralisia infantil é outra doença que também foi erradicada do país por conta da vacinação. O último caso da pólio foi registrado em 1989, mas como essa doença ainda persiste em alguns países da África e da Ásia, a vacina continua a ser administrada às crianças brasileiras.
Outras doenças preveniveis por vacina estão em vias de serem eliminadas do Brasil. Os casos de tétano caíram rapidamente nos últimos 20 anos e a forma neonatal da doença, que afeta os recém nascidos, está quase erradicada do país. O sarampo também está em vias de desaparecer do Brasil; nos primeiros anos do século XX não foram registrados casos da doença e, mais recentemente, ocorreram apenas surtos isolados, em decorrência de falhas na cobertura da vacinação. A rubéola, outra doença viral prevenivel por vacina, encontra-se em situação semelhante à do sarampo.
O desenvolvimento das vacinas só foi possível com as descobertas da revolução bacteriológica no século XIX. Destacam-se os trabalhos de Louis Pasteur, que descobriu a vacina contra a raiva em 1886, modelo tecnológico para dezenas de outros produtos que vieram depois. Antes de Pasteur havia apenas a vacina braço a braço contra a varíola, que não era um produto seguro nem podia ser produzida em larga escala, o que limitava a sua utilização.
Hoje sabemos que as vacinas funcionam através da introdução no organismo de uma parte ou de todo um microrganismo, que pode estar vivo e atenuado, ou morto. O objetivo é provocar uma reação do sistema imunológico, produzindo anticorpos, que no futuro protegerão o indivíduo em caso de contato com o germe causador da doença.
Se hoje a importância das vacinas é amplamente reconhecida, nem sempre a população esteve receptiva à vacinação. O exemplo mais conhecido no país é o episódio da “Revolta da Vacina”, rebelião popular que ocorreu no Rio de Janeiro contra a obrigatoriedade da vacina contra a varíola, aprovada pelo Congresso Nacional em 1904. Outro exemplo tem sido a reação de grupos sociais conservadores contra a vacina para o HPV, que passou a integrar o Calendário Nacional de Vacinação em 2014. Eles acreditam que o fato dessa vacina ser oferecida às meninas de 9 a 13 anos funcionaria como um estímulo à iniciação sexual precoce.
Apesar do alvoroço envolvendo a vacina contra a gripe durante a epidemia de H1N1 em 2016, esse produto não tem sido bem recebido desde que passou a ser oferecido em 1999. Mitos como ideia de que a vacina, em lugar de proteger é capaz de provocar a gripe, tem impedido o sucesso das campanhas, principalmente entre os idosos, um dos grupos alvo da vacinação.
Novas vacinas deverão surgir nos próximos anos. Laboratórios em todo o mundo correm em busca de produtos contra velhas doenças que ainda assombram a humanidade. É o caso da vacina contra a dengue, aguardada com grande expectativa para 2017/2018; já existe uma vacina no mercado, mas que não foi adotada pelo governo brasileiro, em decorrência de suas limitações técnicas. Já as vacinas contra a Aids, a malária e a doença de Chagas são produtos que demorarão muitos anos para chegar ao mercado.
*Médico, doutor em Saúde Coletiva e professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp em Araraquara.