No início da noite do dia 05 de agosto, amanhã, acontecerá a abertura da Olimpíada do Rio de Janeiro completando 120 anos de realização dos jogos modernos iniciada em 1896 pelo Barão de Coubertin. Lá eram 9 modalidades esportivas com atletas de 14 países. Aqui são 206 comissões representando países e nações, disputando 46 modalidades esportivas (fonte: site rio2016). Note-se que este número de comitivas pertencentes ao COI (Comitê Olímpico Internacional) supera os 193 países-membros da ONU. A grandiosidade do evento e a longevidade da iniciativa trazem algumas lições. Destaquem-se duas reflexões: a bandeira e o lema.
Em 1913, O Barão de Coubertin desenhou o pavilhão com o fundo branco e cinco aros em cores diferentes entrecruzados. Identificando as seis cores mais incidentes nas bandeiras dos países, relacionou-as com os cinco continentes: azul – Europa, amarelo – Ásia, Preto – África, Verde – Oceania e Vermelho – América. A união se representa pelo entrelaçamento das argolas e a paz pelo fundo branco. Provavelmente, o Barão se motivou pelo humanismo e o universalismo difundido no final do século XVIII. Afinal, iniciava a divulgação da ideia de que somos todos seres humanos e vivemos todos no mesmo planeta.
Durante os jogos, adversários políticos e inimigos culturais se reúnem na mesma festa e, às vezes, na mesma equipe. Grupos étnicos em permanente estado de guerra civil, como curdos, sunitas e xiitas do Iraque, juntam-se no mesmo time. Esta tênue e temporária união demonstra como objetivos comuns levam homens com culturas diferentes a lutarem pelas mesmas vitórias. No campo temporário da disputa esportiva superam-se as divergências mesmo se nas diversidades da vida a falta de esclarecimento leve à ignorância e à guerra.
Assim, ainda que brevemente, a bandeira do esporte se apresenta como eficiente instrumento de aproximação dos adversários sobrepondo-se à intolerância dos interesses políticos e econômicos e às diferenças culturais. Homens das mais diversas nacionalidades entram no mesmo estádio e vibram com a superação humana dos limites. Primeira lição: como nas argolas de Coubertin, o breve abraço dos estranhos testemunha a possível amizade entre povos e culturas distintos.
O lema escolhido em 1894, pelo Barão de Coubertin, ao montar o primeiro comitê Olímpico em preparação para os jogos de 1896, foi o trinômio: Citius, Altius, Fortius, isto é, “mais rápido, mais alto, mais forte”. Assim como nos jogos antigos, a superação dos limites humanos resume o objetivo principal dos modernos. O atleta olímpico precisa dar o melhor de si. A vitória resulta da superação dos próprios recordes e dos limites estabelecidos por seus antecessores ou contemporâneos. Cada nova marca desafia o atleta a ir além. Cada novo recorde demonstra o potencial de cada homem ou mulher em contribuir com o desenvolvimento da humanidade.
Hércules caracteriza o grande herói mítico por realizar as doze tarefas consideradas impossíveis para os humanos. E, após concretizar seu feito, ao invés da acomodação, vai para o pé do monte Olimpo desafiar seus oponentes. Ele se tornou símbolo da superação da mediocridade e da permanente busca individual em realizar o melhor de si. A vitória depende da dedicação e da disciplina. O resultado positivo segue ao árduo treinamento. Ao pódio chega quem estuda e treina no limite da exaustão. Ninguém se torna campeão acomodado na zona de conforto.
Os heróis olímpicos, longe de serem deuses com habilidades natas, são homens e mulheres cujo diferencial está na dedicação a seu projeto de superação. Assim como nas grandes vitórias olímpicas, as conquistas individuais do cotidiano dependem de dedicação. Segunda lição: a improbabilidade acompanha a vitória dos acomodados, então o pódio dos jogos ou da vida nutre amizade com os comprometidos.
*Professor da Faculdade Reges de Dracena, mestre em Direito (Teoria do Direito e do Estado) pela UNIVEM (Marília); doutorando em Direito (Sistema Constitucional de Garantia de Direitos) pela ITE-BAURU.