O Brasil apresenta um patamar razoável de inversões na área de pesquisa e desenvolvimento (P&D), elemento chave para o crescimento econômico, quando comparado com o resto do mundo. Os dispêndios no país em 2013 equivaleram a 1,2% do PIB, o mesmo nível que Espanha, Itália e Portugal e superior ao observado na Rússia, México e Argentina.
Nos últimos treze anos essa despesa em relação ao PIB se expandiu 19%. O problema é o baixo retorno desse investimento. O país tem conseguido aumentar consistentemente seus indicadores científicos, como, por exemplo, a participação em publicações indexadas, mas não avança significativamente em indicadores de inovação, como o número de patentes requeridas.
Em linhas gerais, um dos maiores entraves à operacionalização eficaz da política de ciência, tecnologia e inovação no Brasil está relacionado à predominância de uma visão linear do processo, entendido como uma sequência onde se passa da fase de investigação fundamental para a de investigação aplicada até a consequente inserção do resultado no mercado. Ou seja, a estrutura se baseia em uma simples relação que parte da fase científica para o desenvolvimento tecnológico e dai para o setor produtivo.
Na obra “Do modelo linear de inovação à abordagem sistêmica. Aspectos teóricos e de política econômica”, publicada em 2005 em Lisboa, os autores Alfredo Marques e Ana Abrunhosa classificam essa visão como um equívoco porque ela distorce o processo em três aspectos:
1. Considera que o processo é desencadeado pela ciência, quando a maioria das inovações surge do conhecimento já disponível. Apenas quando esse conhecimento é insuficiente para resolução de problemas é que há necessidade de investigação;
2. Ignora o fato da inovação ocorrer mesmo sem que haja uma percepção clara dos princípios científicos básicos. Muitas vezes, a evolução tecnológica é que estimula o desenvolvimento da ciência. Além disso, problemas concretos e testes de novos produtos ou processos geram pesquisas, ao criarem a necessidade de investigação para lhes dar resposta; e
3. Não inclui os feedbacks que ocorrem durante o processo.
A visão predominante na área da inovação enfatiza a necessidade de uma atuação sistêmica, integrada, entre as universidades, as empresas, o mercado e o poder público. Essa demanda se dá por conta das interações entre as organizações, e entre estas e as instituições, e por causa do fomento e da difusão depender do processo cumulativo de aprendizagem, que vão, no futuro, manter o processo inovativo. Assim, há cinco grupos que devem se integrar para a eficácia do sistema: empresas; instituições de ensino, de formação e de P&D; organizações de interface e apoio tecnológico; agências de fomento; e instituições públicas.
A montagem de uma estrutura integrada, funcionado de forma cooperativa, é indispensável para a criação de um ambiente inovativo eficaz no Brasil. Essa é uma diretriz que a Finep irá seguir em seu processo de reestruturação.
*Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getúlio Vargas (FGV)