O arranjo que temos hoje no país, com o presidencialismo-de-corrupção e dezenas de agremiações partidárias, não merece sequer o nome de “sistema político”.
Na verdade, não temos partidos políticos. Temos partidos eleitorais. Muito mais do que em encarar as grandes questões nacionais, essa gente só pensa em ganhar eleição. Em termos concisos, não temos partidos COM programa, mas partidos DE programa.
Além disso, são partidos de mais e democracia de menos, com a agenda dos políticos e a agenda dos cidadãos mantendo distâncias quilométricas entre si. E tudo isso resulta no caminho mais curto para desintegrar a própria ideia da representação política.
Em Democracia e Mercado no Leste Europeu e na América Latina, Adam Przeworski falava da corrosão das instituições representativas, exemplificando nos seguintes termos:
“Quando os candidatos ocultam seus verdadeiros programas econômicos ao fazer campanha ou quando o governo adota políticas diametralmente contrárias às suas promessas eleitorais, o que fazem é ensinar à população que as eleições não têm nenhuma função real na definição de políticas”.
Que as eleições não têm maior importância, não passando de um rito social algo vazio, destituído de verdadeira significância. E o teórico do individualismo metodológico não está escrevendo sobre o Brasil de ontem à noite, não. Demos, com Dilma, apenas o exemplo mais recente disso.
Como se não bastasse, tivemos, de uma parte, o mensalão e o petrolão, dando-nos às vezes a sensação de que, apesar da vasta sopa de letras das agremiações, nos encontrávamos, na verdade, sob um regime de partido único.
De outra parte, investia-se fortemente na debilitação da democracia representativa através de ONGs, sindicatos e movimentos sociais alinhados com o governo, que os financiava. E, para coroar o absurdo, ainda havia o projeto terrorista de controle da mídia, quando o que devemos defender é o controle social do executivo e do legislativo.
Em resumo, de FHC a Lula-Dilma-Temer, o que este sistema político (do qual faz parte a bandidagem do marketing) mais nos tem ensinado é que, enquanto cidadãos ou membros de organizações representativas, não temos papel algum a desempenhar na formulação de projetos e políticas públicas. Ou, se temos, este papel é, no máximo, mínimo – e quase sempre ridículo.
O que significa que, de décadas para cá, o que o atual sistema político brasileiro mais tem feito é corroer a representatividade e golpear e enfraquecer a democracia.
*Antônio Riseiro, é escritor e autor, entre outros livros, “A utopia brasileira e os movimentos negros” (2007)