Hillary Clinton parece não conseguir se livrar do fantasma dos e-mails. Sua popularidade começou a despencar ainda em 2015, durante investigação do FBI acerca do uso de um servidor privado por parte da então secretária de Estado, para tratar sobre e-mails confidenciais. No imaginário coletivo dos Estados Unidos, a segurança nacional é um tema à flor da pele, por isso esse primeiro escândalo atingiu fortemente a imagem de Clinton durante o início de sua pré-campanha para as primárias.
Felizmente para a candidata, o partido Democrata foi coeso na escolha de candidatos que se lançariam para as primárias, mantendo um número reduzido de opções para os eleitores. Além disso, Hillary Clinton já contava com o apoio prévio das principais figuras dos Democratas (como o próprio presidente Obama), o que garantiu a ela os votos dos “Super Delegates”, fazendo com que não precisasse necessariamente ganhar a nominação oficial através do voto popular.
Em contraste, a impopularidade de Clinton com o público é notável quando se observa a necessidade de Bernie Sanders (seu ex-concorrente de primárias) em fazer campanha ativa para que seus eleitores não deixassem de votar em Clinton. O apoio a Hillary Clinton vem do topo e não da base, graças a seus anos envolvida na alta política dos Estados Unidos como primeira-dama, secretária de Estado e senadora.
O problema que ela enfrenta agora é que os Super Delegates não entram em jogo nas eleições presidenciais, e sua impopularidade é apenas compensada pela semelhante impopularidade de seu adversário, Donald Trump. Nesse cenário, o vazamento de e-mails da candidata parece ter se tornado seu principal pesadelo, e vazamentos de documentos pelo WikiLeaks que prejudicam sua imagem tem acontecido desde o dia em que o partido Democrata lhe concedeu a nomeação como candidata.
O conteúdo dos e-mails tem sido desde estratégias para minar a pré-campanha de Bernie Sanders, discursos pagos por empresas de Wall Street, até mais recentemente enriquecimento pessoal proveniente da fundação de caridade de sua família. Se comparado com os escândalos midiáticos da campanha de Trump, o conteúdo dos e-mails parece ser o de menos (por enquanto), o que realmente mina sua campanha é a semente de suspeita que esses vazamentos plantam no subconsciente da sociedade americana: “Clinton não é confiável”. Essa ideia ajuda a campanha de Trump em sua defesa sobre os seus próprios escândalos que estão sendo midiatizados, de que pelo menos o candidato é mais sincero. Curiosamente, Donald Trump é tão sincero que é visível quando ele parece não pensar muito sobre seus posicionamentos e repentinamente parece mudar de ideia.
Frente a esse cenário, a campanha de Clinton parece ter abandonado esforços para tapar os buracos abertos pelos vazamentos de e-mails, e se concentrado em explorar as perdas eleitorais que Trump sofre com o teor de seus escândalos (machismo, racismo e xenofobia). Não à toa, Michelle Obama tem sido ativa em chamar o voto negro e das mulheres para Hillary. O voto facultativo dos Estados Unidos faz com que uma eleição entre candidatos impopulares se torne uma corrida em convencer o maior número de grupos chaves a comparecer às urnas. E nestas eleições esses grupos parecem estar sendo pescados através do argumento: “mas o outro é pior”.
*Alfredo Juan Guevara Martinez é doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP) e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estudos sobre Estados Unidos (INCT-INEU) e do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da UNESP (IEEI-UNESP).