Foi bom e histórico estar aqui na Califórnia no dia e noite da eleição presidencial Americana mais surpreendente das ultimas décadas. Em colunas anteriores de algumas semanas passadas eu dizia que “Pode dar Trump”… e deu mesmo! Uma soma de fatores agora vão ser explorados explicando o que era tido como impossível e isto é uma diversão que não tem preço! Como foi bom ver a CNN (Clinton News Network) noticiar que Hillary já tinha ligado para Trump concedendo a vitória e eles ainda estarem relutando a fazê-lo, especialmente considerando que SEMPRE saíram na frente como furo de reportagem e fonte segura de resultados eleitorais. Como foi bom também ver o New York Times e o Washington Post anunciarem o novo Presidente Americano antes do resto da mídia, logo eles que fizeram o possível e o impensável para que isto não ocorresse!

Como foi bom ver os comentaristas da CNN, da NBC, da CBS tentando explicar como erraram tão longe e se apoiaram em pesquisas ditas reputáveis que até ontem davam Hillary com até 7 pontos percentuais de vantagem. Foi hilário. Mas enfim, o que aconteceu que o mapa do país de repente ficou quase que totalmente republicano? Como a Florida e seus hispânicos tão ressentidos com Trump deram a ele os votos históricos que precisava? Como a Pensilvânia historicamente democrata assim como Ohio e Michigan viraram a casaca? Como pôde o Texas e seus também hispânicos darem um milhão de votos a mais para Trump?
Esta noite teve vários derrotados históricos. O primeiro foi Obama que junto com a esposa Michelle teve um papel lamentável no processo eleitoral, indigno de um Presidente em exercício, abandonando o governo por mais de duas semanas para fazer campanha por Hillary. Não que ele goste muito dela, ao contrario, apenas a suporta o que levou muita gente a desconfiar que seu empenho tinha algo relacionado com os milhares de e-mails que sumiram do servidos de Hillary. Sua arrogância e falta de cortesia num jantar de fim de ano na Casa Branca quando humilhou Trump com piadas de mau gosto por mais de 5 minutos, e que este nunca perdoou, devem estar tendo um sabor especial para o novo Presidente eleito. Um Presidente não se rebaixa a esta postura mesmo tendo motivos como a afirmação de Trump na época de que Obama nem nascido nos EUA era.
Outro perdedor crasso foi o Diretor do FBI que cedendo a pressões de Obama e os Clintons fechou a investigação dos e-mails de Clinton dois dias antes da eleição. Foi um tiro no pé… ninguém engoliu a explicação e ao contrario a revolta com as falcatruas de Hillary aumentaram. Da mesma forma outro grande perdedor é o House Speaker ou Porta Voz do Congresso, Paul Ryan que após o ‘escândalo’ das gravações chulas de Trump sobre as mulheres feitas a mais de 10 anos, resolveu que não mais iria apoiar justamente o candidato de seu partido. A lista é longa, mas a maior derrota fica para os institutos de pesquisa.
Desde que comecei a estudar e trabalhar com Marketing Político (não marketeiro) um fato sempre me guiou e esta noite saltou aos olhos: Marketing, Política e Economia deixaram de ser ciências exatas para serem comportamentais desde a globalização, a queda das fronteiras da informação, do estudo, dos costumes e hábitos. Estudar estatística desde há muito acho um exercício fútil e apenas mais uma ferramenta interessante para mostrar possíveis caminhos, não mais para determinar resultados. Intervalos de confiança, desvios padrões, regressões, distribuição normais, estudo de variações….tudo muito bonito… no papel porque na realidade são as explicações comportamentais que decidem e não modelos estatísticos e suas formulas que só computador resolve. Pura masturbação matemática. Isto ficou claríssimo nesta noite.
A Maioria Silenciosa falou… aquela que nas pesquisas dava respostas erradas nas pesquisas com medo da pecha de ser de direita, revoltada, conservadora, racista, isolacionista, militarista.
A Maioria Silenciosa que preferiu o destempero de um candidato que fala sem pensar, mas que também fala o que eles querem ouvir atualmente sobre mais do mesmo ou uma candidato altamente comprometida com o que está aí. Mais uma vez a Maioria Silenciosa preferiu repudiar aquilo que mais odeia: a desigualdade de oportunidades ou o oportunismo barato, a desonestidade deslavada dos participantes do atual sistema político. As duas frases que levaram Trump a vitória foram “Crooked Hillary” (Hillary Desonesta) e ‘We will clean the swamp” (Nós iremos drenar o pantano”). O racismo de Trump com relação a mulheres e latinos é lastimável apesar de achar refugio em muitos que perderam o emprego aos imigrantes ilegais, mas a desonestidade de Hillary e de sua campanha desde que puxou o tapete de Bernie Sanders, seu concorrente nas Primárias se tornaram inadmissíveis para a maioria dos americanos… vai de encontro aos ideais da Constituição e aos valores da sociedade dos fundadores da nação.
A Maioria Silenciosa deu uma clara mensagem aos Clintons, sua Fundação e a Obama: corrupção e favoritismo não fazem parte dos ideais americanos e os diferenciam da maioria dos demais países, mesmo democráticos. É uma afirmação ingênua, utópica e até Quixotesca, mas que está enraizada nos valores do fair-play (espírito esportivo) mesmo quando a outra opção é tão passível de critica como Trump que realmente falou barbaridades e tem um telhado para lá de vidro.
A Maioria Silenciosa se revoltou contra o Golias que colocou o governo, a mídia escrita, falada e televisiva contra o David que falava a língua do povo sem nunca ter sido parte dele. Se revoltou contra um sistema político que embora anos luz na frente de seus pares de alem mar, parecia ter esquecido de escutá-los. Ficou a impressão que Hillary estava mais interessada em seus ganhos pessoais, de seu marido e de sua Fundação do que no país e a vasta classe media duramente atingida pela crise econômica de alguns anos atrás, pelo alto custo do seguro medico, pelos impostos, pelos empréstimos estudantis impagáveis, desemprego industrial e o congelamento de salários.
A Maioria Silenciosa e os militares nunca perdoaram Obama e Hillary por Bengazi quando americanos foram abandonados a própria sorte diante de extremistas islâmicos. Não engoliram o acordo nuclear com o Irã que dias depois aprisionou marinheiros americanos para soltá-los perante pagamento de resgate na penumbra da noite e comemoraram o aniversario da tomada da embaixada americana em Teerã gritando morte aos EUA e a Israel, semana passada.
Não perdoaram enfim, quando Hillary chamou os eleitores de Trump de arruaceiros, extremistas, racistas, fascistas e outros adjetivos pejorativos.

Não foi Trump que venceu, foi a Maioria Silenciosa que derrubou estrondosamente Obama e Hillary – tudo o que representam, especialmente o rumo que pretendiam em direção à mesmice política corrupta dos últimos anos que através dos grande lobbies fecha fabricas no país em favor de produtos importados que inundam o mercado e tanto desemprego causam.
Trump é uma brisa nova no horizonte e no panorama americano. Vejo isto no semblante e no espírito de boa parte da população que gosta do novo, do desafio, da mudança. Há um áurea de otimismo desde esta noite. O impossível, o milagre, a vitória do mais fraco aconteceu o que dá um ar de esperança a todos, de tudo pode ser mudado.
Se Trump vai ser para melhor ou vai decepcionar esta Maioria Silenciosa nenhum modelo estatístico ou pesquisa de mercado pode prever… afinal, quem diria que Regan seria um dos Presidentes mais admirados? Ou que o próprio Trump chegaria aonde chegou. Não custa ser um pouquinho otimista. Mais uma boa surpresa seria sempre bem vinda!

*Economista (USP) Mestre em Marketing (Michigan State), doutorando em Marketing (CIBU-San Diego) – musattiroberto@hotmail.com