Na manhã do dia 29 /11 p .p. Dracena acordou mais triste. O Brasil acordou mais triste, o mundo também acordou mais triste , pois espalhava -se com muita rapidez a notícia do acidente aéreo envolvendo a delegação da Chapecoense , jornalistas e tripulantes da “ Lamia”, abreviando assim de forma trágica a passagem pelo mundo terreno de 71 vidas , quase todos no auge de suas carreiras profissionais .

Vivemos horas e dias de muita tristeza e consternação , pois aquilo que era para ser a grande festa do futebol Sul Americano com provável conquista inédita para Chapecó, transformou -se em questão de segundos, sem prévio julgamento e por uma enorme irresponsabilidade do comandante do voo, no maior acidente aéreo esportivo que temos conhecimento .
A dor do povo brasileiro mesmo com o carinho recebido dos colombianos era muito grande mas mesmo assim serviu de consolo para as famílias dos jogadores que perderam, além de seus entes queridos, a possibilidade da realização do sonho de que aquele menino pobre iria conquistar o cenário esportivo mundial e muito mais triste ainda é sabermos que o sonho destes meninos eram bem modestos, no máximo , “ comprar uma casinha para minha mãe “ .
À medida que todos os meios de imprensa nos colocavam mais perto da realidade, levando todos nós brasileiros e colombianos às lágrimas também nos serviam de conforto em paralelo gestos de solidariedade do mundo todo e que sem sombra de dúvida nos trouxeram certo conforto .
A Colômbia, país vizinho nosso e que nós brasileiros sempre olhamos de canto de olhos transformou se em questão de horas o nosso maior ponto de apoio. Esta mesma Colômbia que tanta dor causou às famílias brasileiras despejando em nosso território toneladas e toneladas de cocaína demonstrou de maneira surpreendente o povo solidário e fraterno que é , pois na noite de 30/11 quando seria realizada a primeira partida da final o Estádio Atanásio Girardot, em Medellin, ficou totalmente lotado para homenagear os mortos do voo Lamia 2933 , aos gritos entoavam “ vamos , vamos , chape” ; nós brasileiros ainda estamos de joelhos diante do povo colombiano .
Dracena viveu nos anos 60 mais precisamente em 07/02/1965 história idêntica envolvendo uma delegação de atletas nossos, da Escola Isac quando excursionavam em jogos realizados por diversas cidades no estado de Mato Grosso, de Três Lagoas a Ponta Porã , sendo que na passagem pela cidade de Maracajú (MS) o padre local entusiasmou – se com nossos ilustres meninos pedindo que jogassem uma partida na cidade, partida esta que não estava prevista e que em seguida seria oferecido um churrasco de confraternização .
Na delegação dracenense estava presente o jovem Salvador Duarte Perez mais conhecido como Magu que a princípio não viajaria com os colegas , pois seu pai que ficara viúvo recentemente não queria ficar longe do filho que por insistência conseguiu convencê-lo e ir e de imediato procurou um dos organizadores não só confirmando a sua ida como em ato contínuo comunicou todo orgulhoso que levaria em sua bagagem o terno que acabara de ganhar de seu pai , pois poderia surgir por lá algum bailinho .
Mas o destino estava traçado de forma diferente sendo que no domingo, Magu foi à missa, confessou , comungou e embarcou na carroceria de uma caminhonete em direção da fazenda onde se realizaria a festa , sendo que minutos depois a mesma capotaria , interrompendo de forma prematura a vida do nosso atleta.
Na tarde cinzenta de 08/02/1965 um pequeno avião teco- teco sobrevoou dracena trazendo em seu interior o corpo do menino , usando o mesmo terno que não usou no bailinho, causando grande comoção em toda a população. Por terra chegavam mais tarde o padre acompanhado de alguns amigos . Hoje, Magu empresta seu nome ao Ginásio de Esportes do “ Isac”.
O carinho e a solidariedade na ocasião entre as duas cidades foram muito grande e nunca perdemos este vínculo e é por isso que em Dracena temos a rua Maracajú e em Maracajú existe uma outra com o nome de “ rua Dracena” .
Para finalizar, é pena que precisamos de ocorrências graves e fatais para percebemos o quanto a vida é frágil, que estamos aqui de passagem e que não podemos deixar para amanhã aquele sorriso , aquele gesto e aquela gentileza, pois amanhã pode ser tarde demais
Estamos no Natal e comemoremos com o aniversariante do dia esta data propícia para nos reconciliarmos com os nossos desafetos e também para devolvermos ao povo colombiano e a todos os povos do mundo o nosso carinho e a nossa gratidão por tudo que recebemos nos últimos dias .
Adoro jogar futebol, bato minha “ bolinha” no Cobra Futebol Clube e é no esporte que notamos a verdadeira integração . Que todos os familiares envolvidos no acidente da Colômbia se sintam abraçados e que tenham certeza que torcemos pela alegria e pela felicidade de todos a mesma alegria que nos contagiaria no momento em que a “ Chape “ levantasse seu troféu de campeão. Obrigado Atlético Nacional de Medellin pelo troféu que hoje enfeita as prateleiras da ASSOCIAÇÃO CHAPECOENSE DE FUTEBOL .

*Morador dracencense