No apagar das luzes deste ano, uma reflexão mais aprofundada mostraria que apenas dois fatos fugiram da repetição ou simples evolução dos eventos de anos anteriores, a saber: a surpreendente para alguns, eleição de Donald J. Trump como presidente americano e a patética reação do presidente derrotado Barack Obama, pior que da sua candidata Hillary Clinton.
Muito se especulou dos motivos que levaram a vitória de Trump para finalmente se chegar ao consenso de que após oito anos de liberalismo de esquerda dos democratas que levaram o país a uma bela recessão ainda não totalmente solucionada, a classe media americana – a fatia da população que é a locomotiva econômica e social do país e, portanto, a mais atingida pela política (ou falta dela) de Washington com perda de casas, empregos, hipotecas, menores salários e maiores custos de saúde, resolveu dar um ‘tempinho’ aos esquerdistas do whisky do Potomac, devidamente entrincheirados com Wall Street, Fleet Street e o cartel das Irmãs (leia-se Bancos, Imprensa e Petróleo). Não foi apenas Trump que ganhou… foram Obama e os Clintons que perderam – suas falcatruas, fundações, ilegalidades e arrogância.
Trump fez o dever de casa do marketing político. Bateu em três teclas por seis meses conforme seus adversários no partido iam sucumbindo: #1 – Hillary era mentirosa e desonesta. # 2 – A imprensa (com exceção da Fox) estava toda contra ele e – #3 – Vou ser o Presidente da classe media e trabalhadora que Obama abandonou. Pegou mal o fato inusitado para um presidente americano em exercício de pegar a estrada com a esposa nas três ultimas semanas antes da eleição para fazer comício em favor de sua candidata como se estivesse lutando por uma reeleição com ataques inflamados contra Trump. Pior ainda as revelações no Wikileaks: primeiro, das desonestidades do Partido Democrata para tirar Bernie Sander do caminho de Clinton na nomeação e depois os e-mails que provavam que a rede CNN organizadora de dois debates dos candidatos na TV tinha fornecido antecipadamente as perguntas para a campanha de Clinton.
Não foi a decisão do FBI de reabrir a investigação do servidor paralelo e ilegal de Hillary que a derrotou, mas sim a ira e a pressão de Obama, do atual governo e da campanha Democrata que resultaram no encerramento da investigação a dois dias da eleição. Ficou cheiro de política Bolivariana no ar…
Tudo isso contribuiu para Trump assumir a percepção do ‘underdog’ lutando contra o sistema, que os ‘órfãos de Obama’ silenciosamente encamparam.
Mas a esquerda americana não aprendeu nada nem se rendeu com as eleições de Novembro. Em vez do ‘lamber suas feridas’, partiu para uma retórica de mau perdedor que tanto criticava em Trump: pediu recontagem de votos, fez protestos em universidades e em grandes cidades pedindo até o fim do sistema eleitoral que vigora há dois séculos e meio, algo que Obama tanto usou para torpedear Trump. Os Fundadores dos EUA fizeram justamente esse sistema eleitoral para não permitir que um ou poucos estados mais populosos fossem sempre os responsáveis pela eleição de um presidente. A liberal Califórnia – que agora legalizou o uso da maconha para fins de diversão e não apenas medicinal – está revoltada por que deu quase 2.5 milhões de votos a mais para Hillary, mas viu Trump ser eleito pela hispânica Florida e os trabalhadores da Pensilvânia, Michigan, Ohio, Wisconsin até da sulista Geórgia. Se no voto popular Trump perdeu, nos votos eleitorais ou estados, deu um banho. O sistema funcionou.
Tradicionalmente os presidentes americanos que estão de saída, após as eleições se abstêm de medidas controversas tanto na política domestica como externa e facilitam o caminho da transição para o novo presidente e seu estafe. Obama está quebrando este protocolo em todas as áreas. Pediu urgência para um relatório da CIA e FBI sobre a interferência da Rússia no resultado das eleições, ‘desceu a lenha’ na rede de TV Fox acusando-a de ter sido a responsável pela vitória de Trump (nocauteando a CNN,CNBC, ABC, CBS, Washington Post, New York Times, LA Times que apoiaram Clinton), assinou veto á exploração de petróleo em novas áreas continentais e no mar (para deixar um legado conservacionista) e está ordenando a libertação de boa parte dos terroristas islâmicos presos em Guantanamo, mesmo sabendo que 85% deles voltam à pratica do terror sem fronteiras – para cumprir sua promessa de campanha.
Mas nada se compara com o desastre da Política Externa de Obama antes e depois da eleição. Conseguiu em oito anos, transformar os EUA em irrelevantes no Oriente Médio (Rússia, Turquia, Irã estão nessa semana reunidos para decidir o futuro da Síria, sem sequer terem convidado Kerry…) e incentivou a criação do Estado Islâmico ao sair intempestivamente do Iraque. Apoiou a Primavera Árabe que desestabilizou todo o norte da África – Algéria, Egito, Tunísia, Líbia e principalmente Síria, Iêmen e Iraque. A China constrói ilhas artificiais para dominar os mares que a circundam, a Rússia domina a Criméia, ameaça Ucrânia e demais antigas republicas soviéticas enquanto Putim bombardeia Alepo e a Turquia os Curdos apoiados pelos EUA… sem contar que o Irã continua não respeitando o acordo nuclear e ainda recebe bilhões de dólares de volta para continuar financiando o terror internacional de Hamas, Hezbolah e congêneres.
Agora a dois dias do Natal e Chanuká para judeus, Obama se vinga da atuação de Netanyahu contra o acordo com o Irã, apunhalando Israel pelas costas pela 1ª vez na historia ao patrocinar por debaixo dos panos no Conselho de Segurança da ONU, resolução que considera ilegais assentamentos e qualquer atividade de Israel nos territórios ‘conquistados’ na Guerra dos Seis Dias em 1967. Para Obama e Kerry judeus rezando no Muro das Lamentações agora é crime e isto deve pavimentar o caminho para a paz no Oriente Médio, assim como a resolução da UNESCO que desconsiderou a herança histórica judaica e cristã de Jerusalém em favor da muçulmana, assim como as 55 resoluções da ONU nos últimos dois anos contra Israel e nenhuma contra os genocídios na Síria e no Iêmen ou os mísseis de Gaza Hamas! Hezbolah, Fatah estão delirando de alegria (igual a quando as torres gêmeas foram destruídas). Assim como Carter, a mesquinhez e a miopia de Obama vão deixar pouca saudade não só no Potomac como no resto do mundo.
Os atentados na Turquia e em Berlim nesta semana reforçam a posição de Trump em relação ao Oriente Médio e ao terror islâmico. Se hoje Jerusalém fosse controlada pelos palestinos como Gaza ou Cisjordânia com predominância do Hamas ou Hezbollah – os cristãos teriam livre acesso à Igreja do Santo Sepulcro, à Via Sacra, às igrejas e locais santos em Belém e Nazaré? Basta ver o que foi feito aos cristãos, padres, freiras e igrejas no Líbano, Síria, e Iraque. Teríamos novas Cruzadas, versão século XXI? E Israel continuaria a existir levando mísseis na cabeça de todos os lados – da Cisjordânia, Líbano e Gaza?
O mundo começa a concordar com a classe media americana, que Trump pode até não ser uma má idéia …
*Professor das Faculdades Reges