Além das demais, o Brasil parece envolvido numa crise mortal nos céus. De brigadeiro ou não. Eduardo Campos, comprovadamente se servindo de uma empresa inidônea. A Chapecoense de uma mambembe, de fundo de quintal. O Ministro Teori Zavaski, ainda que num acidente sem dolo, pelo menos pleno de imprudências ou culpas graves. E pneu de avião não pode estourar como de um carro. Já há carros de pneus com blindagem, que nem pneus reservas têm, e Aécio Neves desceu em Cumbica, graças à previdência do piloto; caso contrário poderíamos ter mais um acidente de grande repercussão no temerário aeroporto de Congonhas.
Não há como não lembrar de Shakespeare, ao dizer que havia algo de podre no reino da Dinamarca. Em nosso reino, de putrefato, pois podridão sempre esteve presente nos bastidores de nossa política.
Em geral, os acidentes aéreos são atribuídos a erros humanos. Claro, humanos nascem e morrem, enquanto as grandes corporações, fabricantes de veículos que cortam os ares, se querem eternas. O incontestável é que as investigações, em geral, levam meses, e, em geral, ficam em suposições, lançadas em alentados laudos, muitos para nos enganar, já que gostamos.
Remanescem dúvidas, no final, sobre todos os acidentes. Jamais dirimidas. Desde o abatimento, em azul de brigadeiro, de Castelo Branco, que insistia, em seu meio, para retornar, já naquela época, ao regime democrático. Essas mortes pesam como um pesadelo sobre os cérebros dos vivos que permanecem com seus interesses resguardados pelos efeitos das tragédias.
Não se trata de conspiração. Será que Sir Arthur Conan Doyle era um conspirador? Certo que no reino da ficção, mas a ficção é uma filha literária da realidade. A odisseia no espaço é uma ficção que hoje empenha milhões de dólares para materializar-se.
Trata-se de deixar claro a espécie que nos causa esse número anormal de acidentes com personalidades. Ressalvado o caso da Chapecoense, em que a pergunta de Holmes “a quem interessa” não vem à balha, os demais influenciaram e poderiam influenciar ainda mais a política brasileira.
As autoridades aeronáuticas cindem os eventos anormais em “incidentes”, menos relevantes, contornados, e os “acidentes”, geralmente de consequências prejudiciais, materiais e humanas. A julgar pela foto do avião que transportava Aécio Neves, tratou-se de um acidente grave, embora sem vítimas pessoais. O estouro do pneu de aterrisagem e o desgoverno da Aeronave são anormalidades gravíssimas.
Já há quem tema viajar de avião de carreira com políticos e autoridades a bordo. Sinal da grave crise institucional e jurídica. Se o Judiciário, limitado a delações premiadas e outros depoimentos testemunhais, já provoca friagens nos ossos de muita gente, imagine-se um Poder Executivo futuro disposto a por tudo para fora, inclusive os inomináveis “segredos de estado”, muito mais concebidos do que o estritamente necessário.
A história do Brasil já começou com a mentira da ida às Índias e da calmaria, que conduziu com suavidade as naus portuguesas à descoberta de “um terreninho”, sempre ao gosto de nossos irmãos lusitanos, que já era seu, afinal um imenso continente.
A verdade é que há uma guerra surda no Brasil. Desde o seio do próprio povo até os meandros do poder. A ameaça de prisões tira o sono de muita gente de colarinho engomado. No Peru, a Odebrechet acaba de ensejar o encarceramento do ex-Presidente Alessandro Toledo. Esse tumulto nos céus, a exemplo dos atroos dos deuses mitológicos, pode muito bem ser consequência de terremotos das assembleias e das intrigas políticas.
*Advogado e membro da Academia Latino-Americana de Ciências Humanas.