O grau de civilização de um povo é aferível por múltiplas formas. Uma delas é o volume de resíduos sólidos que ele produz.
O Brasil não está nos melhores lugares nesse campeonato. Basta verificar a tonelagem de dejetos a cada dia despejados em todos os lugares. O custo da coleta de lixo, da varrição das ruas, o drama dos aterros sanitários irregulares, a sujeira dos espaços, tudo depõe contra nós.
Esquecemo-nos das lições básicas e preliminares a qualquer boa educação, que tem início com o respeito. Respeito próprio, pois não é digno habitar espaços conspurcados. Respeito ao próximo, pois transformar ruas e rios em depósito de detritos é atentar contra a dignidade do semelhante. Respeito ao ambiente, que não dá conta de se regenerar, diante da continuidade de atentados vulneradores da higidez, da saúde, da estética e de outros valores obscurecidos pelo descaso.
Um dos índices de insuficiência cultural é a existência de “desmanches”. Aqui não se leva a sério a logística reversa, que obriga o fabricante de um produto a cuidar de sua destinação e absorver o que restar dele quando já serviu às suas finalidades.
Mais importante do que reforçar as verbas destinadas à coleta de lixo e à construção de novos aterros sanitários, é investir na educação da população.
Fazer com que as mães e pais ensinem seus filhos a não converter o espaço público numa grande lata de lixo. Promover campanhas institucionais e começar desde cedo, na primeira infância, até para que as crianças possam recordar seus pais que não está certo emporcalhar as ruas.
As cidades já foram mais acolhedoras, mais limpas, mais floridas. Não podemos nos acostumar com o abandono, com o acinte, com a mais escancarada falta de higiene nas ruas.
Resgatar a paisagem urbana e a paisagem humana é uma recomposição da autoestima cidadã.
Em tempos de crise econômica, poupar recursos hoje empregados na coleta de resíduos, na varrição e na limpeza daquilo que pode ser conservado se houver restauração da boa educação de berço é uma alavanca eficaz à retomada do verdadeiro desenvolvimento.

*Secretário da Educação do Estado de São Paulo