Os países são expressões geográficas e os Estados são formas de equilíbrio político. Uma Pátria é muito mais que isso: é sincronismo de espíritos e de corações, têmpera uniforme para o esforçoe homogênea disposição para o sacrifício. Quando falta esta comunhão de esperanças, não há nem pode haver Pátria.”

Esta bela lição de José Ingenieros, o famoso escritor argentino, nos faz refletir sobre o nosso país, nesse momento em que se registra uma das mais graves crises de nossa história. Na verdade, uma confluência de crises: política, econômica, social, ética e moral.
E assim a pátria, que abriga os sentimentos coletivos, os sonhos da comunidade nacional, vai se tornando um ente distante, puxada por interesses venais, que se sobrepõem ao ideário cívico e patriótico.
Os poderes se povoam de servis, a autoridade se esfacela ante as máfias de corrupção que se instalam, a descrença nas instituições se expande, o poder invisível age à sombra do Estado, corroendo as veias da nação.
A res publica é invadida por uma teia de oportunistas, que montam estruturas de latrocínio nas instâncias da federação, criando feudos, promovendo negociatas, estabelecendo conluios, abrindo amplas fronteiras para o território de torpezas.
A política, missão no conceito aristotélico de servir à pólis, converte-se em profissão.

Ante a largueza dos desvios e da ruptura dos compromissos para com a nação, urge levantar nossas vozes e expressar, do alto da consciência cívica de tantos quantos acreditam na capacidade de resgatar o ideário pátrio, sua indignação contra a corrupção, a improbidade, as negociatas, o rompimento dos preceitos morais e dos princípios éticos que fundamentam a vida política.
Que se extirpem da paisagem institucional os odiosos privilégios que imperam nos três poderes.
Que se dê um basta ao fim do patrimonialismo, do empreguismo, do grupismo, do coronelismo, do mandonismo, do nepotismo, do fisiologismo e de outros “ismos” que assolam nosso país.

Que empunhemos a bandeira de ferrenho combate à corrupção, essa mazela que tem desviado o Brasil da rota de grande nação.
Que se desfralde a bandeira do mérito e da transparência para que se restaure a seiva moral da administração pública e se feche o duto por onde se desviam recursos que poderiam melhorar os espaços da educação, da saúde e da segurança pública.
Que se ponha um fim à ocupação de espaços públicos, estratégia mesquinha usada por grupelhos para fins privados inconfessáveis.
Que se imponha a racionalidade na administração pública, com a qual se conseguirá diminuir o absurdo número de cargos comissionados, de livre nomeação por gestores públicos, e geralmente usados para acomodar interesses políticos, em clara apropriação da res publica.
Que se dê um fim aos supersalários na administração pública, onde castas de espertos chegam a auferir altíssimos proventos. Que não se permitam penduricalhos salariais.
A Lei deve ser igual para todos.
A norma por todos deve ser obedecida.
A política, lembramos mais uma vez, é missão para servir à coletividade. E não caminho para negócios tortuosos.
A República é abrigo de todos os cidadãos e não o refúgio de grupos.
A nação brasileira clama por civismo.
Unamo-nos nesse ideal!

*Presidente da OAB SP