Quando os 78 executivos da Odebrecht — incluindo Emílio, dono da empreiteira, e seu filho Marcelo – fecharam acordo de delação com a Lava-Jato, acreditava-se no fim do mundo. Tratava-se do desbaratamento de um sistema organizado e sólido de corrupção em obras públicas — moldado no Brasil e com braços e pernas em outros 12 países – que existia há décadas, mas que se vitaminou e ganhou músculos nos governos petistas.
Dois meses depois, o marqueteiro João Santana e sua mulher Mônica Moura revelaram detalhes ainda mais sórdidos de como esse mundo particular se movia, expondo como a dinheirama ilícita teria corrido nas campanhas de Lula e Dilma, com conhecimento e comando deles.
Agora será a vez do ex-ministro Antonio Palocci, e, com ele, a explosão do mundo.
Sua provável delação, já em negociação, tem potencial para detonar de vez seus ex-chefes Lula e Dilma, além de gente do mercado financeiro e de empresários que ganharam mundos e fundos durante os mandatos petistas.
Palocci é peça-chave de quase todos os que se apresentam aos procuradores da Lava-Jato.
O ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa-Civil de Dilma aparece nos depoimentos como quem cuidava do cumprimento dos acordos paralelos, dos pagamentos clandestinos, das generosidades para empresas amigas, que devolviam os agrados com juros e correção na campanha eleitoral seguinte.
Está em voga também na operação que a Polícia Federal deflagrou sexta-feira, para apurar o repasse de R$ 8,1 bilhões do BNDES à JBS, empresa líder mundial de carne e contribuinte eleitoral dadivosa.
E Palocci nunca está sozinho. Na maior parte das vezes seu nome vem atrelado ao de Lula, o chefe, tão citado nos depoimentos dos marqueteiros que vieram à tona na última quinta-feira.
Para Lula e o PT, a ameaça Palocci é o que mais devastador poderia acontecer em uma semana em que só colheram reveses.
A começar pelo depoimento de Lula ao juiz Sérgio Moro, no qual o ex-presidente até conseguiu cravar algumas vitórias para a plateia de fiéis. Mas que foi um desastre para a sua defesa, com várias contradições, abuso de “não sei” e de responsabilidade jogada sobre o túmulo de sua mulher, Marisa Letícia. Oportunista, desrespeitoso, covarde, patético.
Nas ruas de Curitiba, os 100 mil que o PT e os “movimentos sociais” prometeram arregimentar somaram perto de 5 mil. E o que Lula pretendia transformar em um embate entre ele e Moro, o nós versus eles, única linguagem com a qual sabe lidar, se desmoronou diante do clima de respeito de ambos durante a audiência.
Quisera Lula e o PT que os problemas se resumissem a incongruências sobre o tríplex no Guarujá, primeiro dos cinco processos a que Lula responde, ou até mesmo do sítio em Atibaia. A terra começou mesmo a tremer no dia seguinte com a liberação, pelo ministro Edson Fachin, dos depoimentos de Santana e Mônica.
A forma com que os dois falam de repasses da Odebrecht para contas no exterior, pagamentos acertados com Palocci, de dinheiro vivo recheando meias de entregadores, amontoado em caixas de sapatos, em mochilas, é espantosa.
O que mais choca nem é a quantidade dos milhões de dólares – e não são poucos –, mas a naturalidade da confissão. Como se não houvesse crime, até porque quem patrocinava o crime eram a própria Presidência da República e seu partido.
Os prejuízos de Santana e Mônica a Lula, Dilma e o PT ainda não podem ser de todo contabilizados. Ao que parece, Mônica aproveitou-se das informações privilegiadas que diz ter recebido de Dilma não para apagar rastros, mas para se documentar e aliviar as penas de seu marido e dela.
Apresentou documentação farta, extratos bancários que batem com as delações da Odebrecht, cópia registrada em cartório de mensagem trocada com Dilma em e-mail secreto, notas, nomes e apontamentos de sua agenda. Tem bala na agulha.
Palocci tem mais, muito mais. A ponto de fazer Lula sonhar em ser apenas o proprietário de um tríplex no Guarujá e de um sítio em Atibaia.
*Jornalista e colunista política