As mudanças climáticas são produzidas pelo homem, espécie que se considera racional, mas que tem comportamento insensato. No afã de dominar a natureza, não sabemos conviver com ela. Só sabemos destruí-la. Estamos condenando as futuras gerações a uma ausência de futuro, se continuarmos na sanha de extinção da mata, poluição da água e eliminação de todas as outras vidas. Aqui está incluída a vida humana: somos campeões em homicídios. Matamos 60 mil seres humanos por ano! E ainda nos espantamos com as guerras que continuam a acontecer em outras partes do mundo, acreditando que somos pacíficos!
Pois vamos colher as consequências da crueldade. Ao eliminarmos o habitat, nós acabamos com a vida animal. Não é só passarinhos os que banimos e continuamos a aprisionar os que restam. Animais de grande porte encontram-se na lista de extinção e ninguém parece acreditar que eles são essenciais para garantir a saúde do ambiente.
Os herbívoros de grande porte, aqui incluídas as antas, os muriquis, as cutias e os tucanos, são os únicos que conseguem engolir os frutos maiores, cujas sementes têm diâmetro superior a 12 milímetros. Quando impedimos que eles se reproduzam, estamos fazendo com que as florestas vão aos poucos desaparecendo. É que eles são frugíveros, dispersores de sementes das árvores de madeira nobre. A floresta vai empobrecer e suas árvores não vão conseguir sequestrar o CO2, gás do efeito estufa.
Isso não é invenção ou palpite. É resultado de uma pesquisa levada a efeito na UNESP de Rio Claro e liderada pelo pesquisador Mauro Galetti. Sua equipe concluiu que a defaunação, ou progressivo esvaziamento de florestas aparentemente saudáveis, é um fenômeno em pleno e crescente curso. E isso acontece principalmente na Mata Atlântica, praticamente extinta e a mais maltratada pelos humanos.
É a chamada “síndrome da mata vazia”. Mesmo que a floresta pareça preservada, sofre com a crueldade de caçadores que matam os grandes animais e estes são os naturais “jardineiros” do verde. Sem descendência animal, os frutos não são mais comidos e as árvores maiores também não deixam descendentes. Isso significa mais carbono à solta. Cada hectare da Mata Atlântica, segundo os cientistas, deixa de absorver até 4 toneladas de carbono. A natureza é sábia. Nós é que não aprendemos suas lições.
*Secretário da Educação do Estado de São Paulo