Há mais de um século, a mulher vem bravamente exigindo e conquistando seu espaço na sociedade, mas, infelizmente, a cultura do machismo, que perpetua há anos entre as gerações, faz com que a mulher ainda seja, muitas vezes, inferiorizada, sendo as mulheres vítimas do culto da incapacidade feminina, fazendo-as acreditar que são mais fracas e, muitas vezes, incapazes.
Os fatos recentes envolvendo a violência contra a mulher ainda ocorrem, mesmo diante da existência da aclamada Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006, de 7 de agosto de 2006), criada para coibir todas as formas de violência contra a mulher.
Sim, a agressão pode ter diversas formas, a patrimonial, a física, a sexual, a psicológica. Pode vir de um assédio moral no ambiente de trabalho, porém, muitas mulheres ainda têm a visão de que violência ocorre com a existência do uso de agressão física tão somente pela pessoa do sexo oposto de seu convívio com quem mantém relacionamento afetivo e de quem se tornou dependente financeira e psicológica, acreditando dever respeito e obediência.
Triste ainda é ver que mesmo tendo o amparo da lei e o acesso à Justiça, muitas mulheres vítimas de violência, diante do medo ou vergonha, independente de posição social, posição política, raça ou credo, se calam, o que permite que a violência passe a ser um ato normal para o seu agressor e, assim, vista por muitas outras mulheres como ocorrências do cotidiano.
Até quando a mulher será desvalorizada e sofrerá agressões? A resposta é somente uma, com a quebra do silêncio e a concretização da denúncia da agressão vivenciada, vindo a encorajar todas as mulheres que, de alguma forma, foram ou vem sendo vítimas de violência.
Passou da hora de dar um basta, porém, para que tudo isso resulte positivamente, é necessário atitude, em primeiro plano, da vítima, que precisa reunir coragem para bradar o seu sofrimento e buscar reparação e exigir o respeito a sua dignidade.
Nesse contexto, é vital que políticas de encorajamento feminino sejam constantemente disseminadas e encaminhadas e encampadas pela sociedade, visando combater a violência, seja ela física, verbal ou psicológica, para que a mulher recobre a consciência sobre a sua força, aquele mesmo viço que a torna capaz de cair e levantar tantas vezes, sem esmorecer, ao contrário, impulsionando sua luta. Não precisamos nos curvar às situações degradantes, abstrair sentimentos de inferioridade, colecionar humilhações, enfim, ocultar as agressões.
É necessário reverter esse processo de agressão à mulher, implementar uma política educacional voltada para a transformação da mentalidade da sociedade, para que possamos erradicar as formas de brutalidade que ora vemos. Como esse é um processo de médio a longo prazo, o mais importante, por agora, é permanecer na luta para a manutenção dos direitos políticos e jurídicos arduamente conquistados.
Afinal, mesmo diante da luta pela dignidade da mulher, por mais que determinados grupos venham firmemente enfrentando a violência contra a mulher, levantando a bandeira da democracia, da igualdade, da harmonia e da cidadania, na tentativa de encorajar mulheres vítimas de agressão, há muito o que ser feito. Assim, a passos lentos, com a conduta pessoal da vítima, delatando o seu agressor e com o apoio maciço da sociedade, em demonstração de força, o lindo discurso do empoderamento feminino alcançará o prestígio almejado, tornando-se realidade para as mulheres, superando a categoria de pseudodireito.
É premissa máxima da vida a dignidade e respeito, lugar de mulher é onde ela quiser, pois foi conquistado com muita dor e luta.
*Advogada e presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB- Sorocaba