No dia 15 de outubro comemora-se o Dia do Professor, embora me pareça os próprios professores no Brasil não terem muito a comemorar diante da tragédia vivida pela educação brasileira — não causada por estes “bravios guerreiros” da sala de aula (um espaço que de fato se tornou um campo de batalha), entre o desrespeito por parte Estado, o desrespeito por parte de alguns pais de alunos e o desrespeito de alguns próprios “alunos” contra a vontade de ensinar desses profissionais, mas pela desvalorização que estes vivenciam na sua profissão e pela própria desvalorização da educação no país do futebol, do Carnaval e da corrupção.
No dia 5 de outubro de 2017, uma professora brasileira da cidade de Janaúba (MG) sagrou-se a mais nova mártir nacional.
Num ato de coragem, amor e entrega ao seu próximo, a professora Helley Abreu Batistanos nos deu uma lição de doação, ao ponto de doar a própria vida em favor do próximo. Nesta ocorrência, Damião Soares dos Santos, de 50 anos — um vigia da creche Gente Inocente, da cidade de Janaúba, que fica no norte de Minas Gerais –, ateou fogo na creche acabando por vitimar várias pessoas, das quais a maioria eram crianças que estudavam no local. A professora, num ato heroico, mesmo com o corpo já em chamas, enfrentou o agressor, salvando assim várias outras crianças.
Então, me pergunto: por quanto tempo esta (até então) desconhecida professora exerceu sua profissão sem qualquer reconhecimento, dedicando-se ao ensino e à educação como professora num país que se mostra negligente quanto à valorização de tão importante e fundamental profissão? Assim como ela, quantos professores e professoras, pilares fundamentais para uma sociedade mais desenvolvida e igualitária, para uma sociedade mais humana, são reconhecidos, homenageados e retribuídos por sua entrega e dedicação ao ensinar? Nobre exercício da profissão escolhida!
Indago-me ainda: qual o preço que “nossa” sociedade cobra para reconhecer as benfeitorias de seus “heróis”? A dedicação ao ofício de professor, tão nobre e de tamanha importância para a sociedade, não seria já merecedora de respeito, admiração e honrarias?
Nosso contexto atual mostra que não.
Parece-me a sociedade brasileira ter exigências ainda maiores. Esta, imputa como condição a tais reconhecimentos a necessidade da imolação.
Não estaríamos nós, como sociedade, vivendo a espetacularização da tragédia? O espetáculo do horror? Onde imputa-se a necessidade de se fazer imolado para receber os olhares que até então lhe foram negados mesmo diante de tamanha doação?
Então, nossos heróis são elegidos de acordo com a sua capacidade de entrega e de entrega até a morte, e não de contribuição em vida. O sacrifício do “animal imolado” em oferenda a essa deusa que somos nós, a própria sociedade.
No entanto, frente ao caso de Janaúba, não me cabe outra ação a não ser me colocar aos pés de tamanho ato que exprime o mais alto grau de desprendimento de si e entrega ao outro. A professora Helley de fato é uma heroína; o foi quando decidiu ser professora num país que rejeita sua profissão todos os dias; o foi quando, superando inclusive o instinto de sobrevivência de correr quando ferido, correu contra tal instinto, lançando-se à luta, mais uma vez em favor daqueles aos quais já tanto havia dedicado seus ensinamentos. Esta heroína teve ainda tempo de ensinar uma última lição, mas agora, não só àquelas crianças: sua última lição foi ao mundo. Uma lição de entrega, de amor e de luta. Luta contra a maldade, luta contra o egoísmo, luta contra o horror que tem invadido as escolas, luta a favor da vida.
Formado em Comunicação Social e aluno do curso de especialização em Filosofia