Não se desespere o leitor, pois os abusos de hoje são a garantia das mudanças. As eleições de 2018 estão logo aí. Quando o Supremo Tribunal Federal (STF) se rebaixa colocando o Poder Legislativo acima da lei, as togas pretas não mais simbolizam respeitabilidade, mas sim cumplicidade.

Ora, sobe imediatamente pelo menos 10% nas intenções de voto o candidato presidencial que convide um herói da Lava-Jato para o Ministério da Justiça. Da mesma forma, quando o Legislativo retarda as inadiáveis reformas política e da Previdência, em busca de sua própria impunidade, explode a indignação da opinião pública e disparam as probabilidades de uma renovação parlamentar devastadora para o establishment nas eleições de 2018.

O Leviatã hobbesiano, segundo Norberto Bobbio, teve duas representações: o “Estado Divindade”, exprimindo a vontade soberana da monarquia absoluta, e o “Estado Máquina”, como instrumento de exercício do poder.

Em suas versões contemporâneas, o moderno Estado Democrático substitui o antigo Estado Divindade, expressando agora a vontade do povo, segundo Rousseau. E o Estado Máquina de Hobbes tornou-se a moderna burocracia estatal, o “aparelho de Estado”.

O aparelho de Estado brasileiro foi moldado em regime politicamente fechado. Com seus burocratas, empresas estatais e bancos oficiais, atendia às prioridades de investimento em capital físico de um planejamento central dirigista.

Por outro lado, uma democracia emergente exige investimentos em capital humano através de educação, saúde e saneamento, assim como crédito acessível para moradias popula
res. Mas o antigo aparelho de Estado não atende às necessidades dos novos tempos.

Nossos políticos e seus economistas perderam-se em malconduzida transição rumo à Grande Sociedade Aberta

A primeira pesquisa do Ibope coloca Lula e Bolsonaro no segundo turno. Lula é o sobrevivente populista de uma “esquerda” que dirige a Velha Política desde a redemocratização.

Bolsonaro é o fenômeno eleitoral de uma “direita” que defende “a lei e a ordem”, valores de uma classe média indignada com a corrupção na política, a estagnação na economia e a falta de segurança nas ruas.

Ao centro, a cada bofetada na face de uma já enfurecida opinião pública, desabam as chances dos candidatos do establishment.

*Jornalista- Jornal O Globo