Desde os primórdios da nossa colonização, os negros foram utilizados nos mais diversos trabalhos, na condição de escravos. Depois, com a abolição da escravatura no ano de 1888, muitos dos libertos ficaram sem saber como iam sobreviver.
Como pássaros presos na gaiola por muito tempo, quando soltos não sabem aonde vão, muitos desses negros tinham medo até da liberdade, porque nunca a conheceram. Nascidos sob os grilhões de ferro e o estalar da chibata, nem sabiam o valor de poder andar, saltar e rir livremente… Menos ainda, sabiam o que é ser livre da opressão espiritual ou a liberdade real. Então, como construiriam uma vida independente, e de valor social, moral e profissional na terra em que sempre viveram, trabalharam e sofreram?
O povo negro passou pelo racismo inibidor do barão do café, pelos preconceitos de todos os credos e matizes, fatos que valeram a muitos uma psicologia de inferioridade, que os reteve miseravelmente intimidados, à margem da sociedade. Muito se fez, entre os mais educados e lideranças negras, para que uma nova mentalidade surgisse, dando conta dos méritos e da dignidade pessoal que cada um deve ter, enquanto cidadão legítimo, brasileiro.
A consciência do negro, entretanto, só desponta no momento que ele descobre que é um espírito livre criado por Deus, tanto quanto o branco, o vermelho e o amarelo. Não melhor, nem pior, mas igual… Desta forma, confia que sua capacidade intelectual e formação orgânica também são as mesmas.
A consciência do negro deve abarcar, também, entendimento de que lhe compete procurar se dedicar com afinco nas atividades profissionais, estudantis e sociais, tornando-se um exemplo positivo de garra e competência, através da qual a valorização de seus esforços fluirá naturalmente. Preconceitos? Sim, eles ocorrem em todos os setores e atividades. Mas não só contra os negros. Preconceitos há contra idosos, obesos, pobres, homossexuais, deficientes físicos, etc. Devemos entender que o preconceito é uma espécie de enfermidade da alma, não de quem o sofre, mas sim de quem o tem.
Nos diversos segmentos da sociedade encontramos pessoas negras que são exemplos de dedicação, competência e honradez, mas infelizmente, também encontramos exemplos de condutas nada elogiáveis. Tal situação não ocorre somente com os negros, mas também com brancos, vermelhos e amarelos, em diversos setores da vida nacional, principalmente entre aqueles que deveriam governar com seriedade o País.
Zumbi dos Palmares, Luther King, Castro Alves, Nelson Mandela, João de Camargo e tantos outros abnegados líderes e mártires, a exemplo de outras lideranças menos populares, tiveram uma importância muito grande no rompimento de muitos elos das correntes físicas e psíquicas que prendiam o negro. Agora compete aos negros da atualidade se conscientizarem que a “liberdade” espiritual, o crescimento intelectual, a valorização profissional e social, só acontecerão com competência e dedicação… Com muito empenho e real seriedade nos estudos e nas atividades profissionais.
Eu e minha esposa somos negros, e vivemos muito bem, sob todos os aspectos, a exemplo de outras pessoas éticas de nossa sociedade. Devemos muito às bênçãos divinas, mas a nossa preocupação em querer crescer, estudar cada vez mais, procurando selecionar nossas companhias, foram fatores essenciais, sem dúvida, para que pudéssemos conquistar as bênçãos e respeito em nosso espaço.
Finalizando convido a todos os homens e mulheres, de qualquer cor, raça ou credo político ou religioso a festejar menos e a refletir mais no 20 de novembro, “Dia da Consciência Negra”.
*Capitão do Exército Brasileiro