A tecnologia tem impactado em todas as indústrias e setores, e os desdobramentos deste avanço, muitas vezes, são difíceis de prever ou entender pois tem acontecido de forma cada vez mais rápida, requerendo a atenção e a capacidade de adaptação pessoal e empresarial. 

Desta forma conseguiremos melhor conviver e buscar prever, na medida do possível, as demandas futuras por serviços e os setores que sofrerão o maior impacto. 

São exemplos de produtos e serviços fundamentais há 20 ou 30 anos e que hoje nem mais existem: revelação de filmes, comércio de linhas telefônicas, máquinas de escrever, etc. Poderia listar aqui, em todo o texto, o que recentemente era muito utilizado e que hoje os mais jovens nem conhecem. 

O setor automobilístico, que já vem conhecendo avanços tecnológicos significativos, está próximo de viver a maior transformação desde o início do século passado, quando a Ford começou a produzir seus primeiros veículos. 

Os carros autônomos, aqueles que não necessitam de motoristas e são orientados por georreferenciamento, câmeras e sistemas operacionais inteligentes já estão em fase de testes avançados nos Estados Unidos e em breve farão parte de nosso dia a dia. As encomendas para os próximos anos destes veículos autônomos já estão sendo feitas pelas empresas de aplicativos de transporte para Ford e Volvo. 

A combinação da economia compartilhada, onde os aplicativos para transporte em muito facilitam a vida das pessoas, que buscam a mobilidade com os veículos autônomos, trarão desdobramentos que ainda não conseguimos imaginar. 

Assim como, no início do século 20, era necessário espaço no comércio e nas residências para os cavalos, com a chegada dos carros os espaços tiveram que ser alterados para estacionamento dos veículos. Com os carros autônomos e compartilhados a necessidade de espaço físico para estacionar é o que mais sofrerá impacto. Segundo estudos, a redução será de aproximadamente 50% na demanda por vagas de estacionamento. 

Essa oferta adicional de espaços poderá ser ocupada por galpões, depósitos, ou até mesmo espaços para serem compartilhados trazendo rendas adicionais para o comércio e condomínios e com grandes impactos, por exemplo, no setor de self storage que está apenas começando no Brasil. 

O poder público perderá muita receita de multas, provenientes de infração de trânsito, pois carros autônomos não cometem infrações e sabem respeitar a legislação. Somente na cidade de Los Angeles serão 250 milhões de dólares por ano na queda da arrecadação. 

A segurança no trânsito trará ainda mais expectativa de vida com a queda acentuada dos acidentes e atropelamentos. As pessoas em seus deslocamentos poderão se dedicar à leitura, conversa, telefonemas e até mesmo trabalho car-offices, talvez com menos tempo de acompanhar inclusive as propagandas de outdoors e outras distrações pelo caminho. 

Com a facilidade e diminuição de stress nos deslocamentos, áreas residenciais mais distantes poderão se tornar grandes atrativos, pois proporcionarão mais qualidade de vida com custos menores. 

Pode parecer distante, de todos nós, essa realidade, talvez realmente seja, mas o fato é que já está acontecendo em algumas regiões do mundo. Com o avanço e a velocidade crescente, desde sempre, potencializado pelos efeitos da globalização e pela queda de fronteiras, que estamos vivendo, para tecnologias talvez em 15 ou 20 anos nossas cidades estarão vivenciando essa nova forma de locomoção. 

A mobilidade e o transporte sempre tiveram grandes impactos na economia e, especialmente, no setor imobiliário, responsável por planejar e construir nossos residenciais, escritórios, indústrias e serviços. Não tenho dúvidas que essa nova realidade trará mudanças significativas em nosso modo de vida e demandas imobiliárias distintas. 

*Presidente do Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo (Secovi-SP)