O ano de 2017 trouxe a economia brasileira para o lado positivo. Depois de amargar dois anos consecutivos de recessão, isto é, queda no Produto Interno Bruto, finalmente o Brasil volta a apresentar crescimento econômico. É certo que o crescimento não repõe as perdas passadas, mas não deixa de ser uma grande conquista.

Mesmo representando 5,5% de tudo que é produzido no País o setor primário (agropecuária) contribuirá decisivamente para fecharmos o ano com crescimento na casa do 1%. Setores secundário (indústria) e terciário (comércio e serviços), oscilaram muito, com alguns segmentos avançando mais do que outros, mas é certo que o pior passou.

O setor comercial comemora as boas vendas do Natal. Dependendo do segmento analisado o crescimento nominal nas vendas oscilaram entre 4,7% e 6% sobre o mesmo período do ano passado. Isso indica crescimento real, ou seja, acima da inflação que deve fechar o ano abaixo de 3%.

Mas nem tudo são flores. A instabilidade política adiou decisões estruturais importantes. Os gastos públicos não foram equacionados e o déficit público acentuado, que eleva a dívida pública, ainda são desafios. Nesta fase do ano o País já deveria ter avançado, por exemplo, na reformada previdência social. Isso não ocorreu e joga uma certa insegurança para 2018. Outros aspectos importantes, como colocado, foi o crescimento não uniforme da economia, e os pífios crescimentos da indústria e do setor terciário. Isso fez com o desemprego, mesmo em queda, ficasse distante de garantir números perto do pleno emprego. Devemos fechar o ano na casa dos 11,9%, enquanto outros Países operam com desemprego abaixo de 5%.

A grande conquista foi o controle inflacionário e com ele a queda da taxa básica de juros. Isso abre um horizonte positivo no tocante à retomada do consumo das famílias que, sem o medo tão acentuado do desemprego, começa a retomar a confiança na economia brasileira. Também o setor externo brasileiro vai bem, com geração de superávit comercial e bom desempenho do balanço de pagamentos.

Por outro lado, o baixo investimento, tanto do Estado como do setor privado, preocupa.

O Brasil precisaria operar com investimentos acima de 25% do Produto Interno Bruto, e opera a abaixo dos 17%. Sem investimentos a economia não anda na velocidade necessária.

Em resumo: o controle inflacionário, a queda na taxa de juros, as exportações, a retomada da confiança do consumidor, e o próprio ciclo econômico, permitiram ao País sair da recessão, entretanto, mesmo com o diagnóstico correto no tocante ao modelo econômico a ser adotado, o governo e sua equipe econômica não conseguiram oferecer aos agentes econômicos alicerces sólidos para concluirmos que a economia brasileira irá se recuperar de maneira sustentável. Isso não quer dizer que voltaremos a recessão, longe disso, mas o não enfretamento do que é mais básico em qualquer economia, que é um Estado equilibrado em suas finanças e eficiente em suas ações, gera incertezas e com ela fragilidades.

É neste cenário, somado ainda aos acontecimentos políticos é que entraremos em 2018 com copa do mundo e eleições presidenciais. Continuo com o otimismo realista e com o diagnóstico que a economia brasileira opera em “U”, indicando lenta recuperação e não uniforme.

Otimismo pelo potencial econômico do Brasil, realista porque há muito a ser feito. De qualquer maneira depois de dois anos só de notícias ruins, comemoremos a virada da economia brasileira, nada que nos permita gastar por conta, mas ao menos renovar a esperança de que dias melhores estão por vir.

Há muita coisa ser feita, um longo caminho a ser trilhado, mas para quem nem enxergava o fundo do poço, além de chegar até este fundo, começamos o caminho de subida.

Se na visão microeconômica para alguns 2017 é um ano ser esquecido, na visão macroeconômica é ano a ser comemorado por indicar a virada, mesmo que tímida, da economia brasileira.

*Economista e articulista do JC,  Bauru