Se alguém lhe perguntasse qual é seu esporte favorito, você dificilmente responderia “jogar videogame”, certo?
Saiba que as competições de games, chamadas de e-sports (esportes eletrônicos), já são a atividade principal de milhares de pessoas, com premiações milionárias, rotinas duras de treinamento e astros com faturamento na casa das centenas de milhares de dólares. Há até quem defenda a inclusão dos games nas Olimpíadas.
Guilherme Gonzaga, 17, planeja ser profissional. Natural de Belo Horizonte e torcedor do Cruzeiro, ele é o atual campeão da etapa brasileira do Fifa Interactive World Cup, a Copa do Mundo de futebol de videogame.
“No futuro, quero abrir uma empresa, onde eu possa fazer meus próprios horários de trabalho, que não atrapalhem o videogame. Afinal, dá para ganhar uma graninha nos campeonatos”, diz.
Pedro Silveira/Folhapress | ||
Guilherme Gonzaga, 17, torcedor do Cruzeiro, treina em sua casa, em Belo Horizonte |
Em março deste ano, ele sagrou-se vencedor ao marcar não menos do que cinco gols com seu time, o espanhol Real Madrid, sobre a seleção brasileira, controlada pelo adversário, que conseguiu fazer só um golzinho de honra.
O mineiro embolsou R$ 1 mil junto com o caneco do torneio do Brasil, além de passagem para enfrentar os melhores do planeta na final mundial, na Espanha –oportunidade que não aproveitou por não ter passaporte. “Não esperava ganhar. Mas já estou me preparando para o ano que vem”, diz.
Gonzaga treina de duas a três horas por dia, sempre com o Real Madrid. “O time tem uma zaga muito boa e o melhor jogador do game, que é o Cristiano Ronaldo”, comenta. Mas e o Messi, do Barcelona, melhor do mundo no futebol real nos últimos quatro anos? “Ao menos no jogo, o Cristiano tem mais força, melhores chutes com as duas pernas e mais velocidade” justifica o gamer brasileiro.
Em 2014, pela primeira vez, a Fifa Interactive World Cup será disputada no mesmo país da Copa. O vencedor receberá US$ 20 mil, além de uma viagem à premiação Bola de Ouro, da Fifa, na Suíça.
A organização calcula cerca de 3 milhões de jogadores competindo em eliminatórias regionais, que tiveram início no primeiro dia de outubro e vão até março de 2014 –o brasileiro Guilherme Gonzaga está novamente na briga. Ao final, sobrarão apenas 20 concorrentes, que disputarão o título no Rio de Janeiro, entre junho e julho de 2014.
ATLETAS DE VERDADE?
Em junho deste ano, o governo dos Estados Unidos reconheceu jogadores profissionais como atletas e ligas de videogames passaram a ter o mesmo status de organizações como NBA (a liga note-americana de basquete) e NFL (a de futebol americano).
A notícia foi ótima para competidores de outras nações, que agora podem entrar no país com vistos de trabalho quando forem participar de torneiros de games.
No início do mês, a Riot, companhia que faz o jogo de combate on-line “League of Legends”, promoveu uma disputa em Los Angeles, com US$ 5 milhões em prêmios. Dez mil pessoas acompanharam o evento in loco; mais 2 milhões viram, simultaneamente, as partidas via web. É uma audiência que supera a de jogos da MLB, liga de beisebol dos EUA.
Na Ásia, o e-sport é sólido há pelo menos uma década. Na Coreia do Sul, China e Japão, há estádios construídos para torneios do tipo e até narradores especializados.
TREINOS E LESÕES
Em competições de jogos mais complexos, como “StarCraft 2” (game de computador, baseado em estratégia militar), os principais jogadores treinam cerca de 3.500 horas por ano (ou dez horas diárias). São 1.500 horas a mais de treino do que a rotina de um nadador profissional como o brasileiro Thiago Pereira, medalha de prata na Olimpíada de Londres em 2012.
Durante as disputas, a frequência cardíaca dos gamers pode chegar a 160 batidas por minuto, o equivalente à de um jogador de basquete em uma partida profissional.
E como em qualquer esporte, lesões fazem parte da rotina: dores nas costas e nos pulsos, distensões nos ombros e vista cansada são os maiores vilões.
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