André de Dominicis é um atleta competitivo, daqueles que detestam perder. No jogo de vôlei, se estica inteiro para dar um peixinho e salvar a bola. Comemora como um gol. Em seguida, seu time perde um ponto, ele bate as mãos na coxa com raiva, reclama com um companheiro e solta um palavrão sobre a marcação do juiz. Afinal, o jogo vale medalha.
Tudo seria normal, se não fosse um detalhe inusitado que pode ser considerado bizarro ou até desrespeitoso para muita gente. André, seus companheiros, os adversários e até o árbitro estão nus.
Todos eles participaram dos Primeiros Jogos Naturistas de São Paulo, em Guaratinguetá, a 180 km da capital. O evento reuniu mais de 50 pessoas que disputaram modalidades como vôlei, natação, golfe, shuffleboard (uma espécie de bocha ou curling) e ringo, um frisby com redes.
A competição celebra os vinte anos do clube Rincão, o primeiro exclusivo para fãs da prática, e faz jus à proposta do naturismo de viver em harmonia com a natureza e praticar a nudez social. Homens e mulheres, idosos e crianças, todos pelados, exatamente como vieram ao mundo, participam juntos dos jogos e disputam ponto a ponto uma medalha.
Apesar do ar liberal, as regras para entrar em quadra ou nas piscinas são bem definidas e é proibida qualquer atitude de cunho sexual. “Se engraçadinho aparecer aqui a gente bota para fora na hora”, diz um dos nudistas que não quis se identificar.
“Muitas pessoas confundem o naturismo com casais liberais, troca de casais, sexo em grupo. Não tem nada a ver. O naturismo tem regras bem claras. Não pode ficar encarando, olhando as partes íntimas. Não pode, mesmo com sua esposa, namorar de forma mais intensa, não pode fotografar, não pode exagerar na bebida alcoólica. É um ambiente para a família”, diz o presidente do clube, Juvenal de Dominicis.
Entre os atletas, aposentados, advogados, médicos, economistas, empresários e professores universitários, contraditoriamente, se escondem em meio à nudez e torna-se impossível saber quem é quem. Muitos não gostam de aparecer em fotos ou filmagens porque têm medo de não serem bem interpretados pelas pessoas de fora e acabarem prejudicados em suas profissões.
Entre eles, no entanto, não há qualquer pudor de mostrar as partes íntimas e até de fazer algumas piadas uns com os outros. “A gente brinca, às vezes chama alguém de bunda mole. Ou fala ‘tira essa bunda daí’, mas tudo de forma bem saudável. Somos amigos”, conta o fisioterapeuta Marcelo Fernandez.
Ao ganhar uma medalha no vôlei, outro participante provou sua total despreocupação em estar pelado. Disse à reportagem que daria entrevista de um jeito diferente e colocou a medalha na frente de suas partes íntimas.
O desempenho nos Jogos deixou a desejar, mas todos eles comemoram a performance, mais leve e confortável sem o incômodo de roupas. “É muito melhor jogar sem roupa. Não tem nada te prendendo, te apertando, aquela preocupação se tem algo aparecendo, se os shorts estão no lugar certo. O desempenho é muito melhor”, diz a auxiliar administrativa Simone, que disputou o torneio de golfe.
Os nudistas também não pensam duas vezes antes de dar um peixinho no vôlei ou se jogar no chão para pegar um frisby. Para eles, o risco de lesões ou de machucar partes sensíveis do corpo não é uma preocupação por ser uma atividade amadora.
“Na hora que está jogando, você nem pensa nisso. Se você tomar uma bolada de roupa vai dar na mesma”, conta Renata Freire. Já Marcelo Fernandez pensa diferente. “Balançar, balança, mas a gente acostuma. Agora, se tomar bolada, arde mais. Ainda bem que tive sorte”, conta.