A greve dos operários das obras do Parque Olímpico dos Jogos do Rio de Janeiro 2016 teve, no início da manhã desta segunda-feira, seu capítulo mais tumultuado até o momento. Durante a manifestação, trabalhadores e seguranças do local se confrontaram, e dois tiros para o alto foram disparados – os autores não foram identificados e não há informações sobre feridos. Após o incidente, os funcionários da construção se dirigiram para a Avenida Abelardo Bueno e fecharam o trânsito nos dois sentidos da via por cerca de 40 minutos.
– Isso não pode acontecer. Estamos aqui lutando pelos nossos direitos, querendo melhoria. Não tinha ninguém quebrando nada. Estávamos gritando palavras de ordem, mas sem machucar ninguém e nem fazer bagunça. E de repente, não sei de onde, surgiu uma pessoa armada, acho que segurança, não sei, e deu um tiro para o alto, na confusão. Estão dando tiro em trabalhador – disse um dos operários que acompanhou tudo de perto, mas preferiu não se identificar.
Por volta de 5h30m da manhã (horário de Brasília) já havia trabalhadores do local. Os mesmos bateram o cartão de ponto e depois se dirigiram ao lado de fora da obra do Parque. Cerca de duas horas depois, com o intenso entra e sai de mais de mil operários e calorosas discussões com seguranças, os ânimos se exaltaram quando membros do Sindicato da Construção Leve (Sintraconst), responsável por obras de edificação (reformas, prédios e fachadas) chegou ao local. Com um carro de som, eles falavam sobre a greve e pediam que os operários ficassem unidos em prol de uma proposta por parte das empreiteiras. Minutos depois, um corre-corre dentro das obras do Parque Olímpico foi observado. Dois tiros foram disparados, mas a reportagem do GloboEsporte.com não pôde identificar a autoria dos disparos. Funcionários deixavam a obra desesperados, dizendo que os “puxadores” da greve estariam sendo ameaçados com armas em punho.
– Eles estão lá dentro, deram tiros – disse um operário que passou correndo.
Revoltados, os operários se armaram com pedaços de madeira e pedras e ocuparam a avenida em frente à obra, um dos principais acessos à Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Cerca de dez minutos após o fechamento da vida, carros da Polícia Militar e agentes de trânsito chegaram ao local. Por volta de 8h30m, cerca de 500 funcionários da obra da Vila Olímpica chegaram a pé para se unir aos manifestantes. Pouco mais de 40 minutos depois, liberaram o trânsito.
O GloboEsporte.com entrou em contato com a assessoria de imprensa da concessionária Rio Mais, responsável pela obra, mas a empresa afirmou que não se manifestará por enquanto e que mantém o posicionamento divulgado na última quinta-feira (leia no fim da matéria).
Manifestantes reivindicam mudança de sindicato
Os funcionários das obras do Parque Olímpico pararam de trabalhar na última quinta-feira como forma de reivindicar a substituição do sindicato que os representa. Eles quem que o Sindicato da Construção Leve (Sintraconst), responsável por obras de edificação (reformas, prédios e fachadas), dê lugar ao Sindicato da Construção Pesada (Sitraicp), que responde por obras maiores, como as que envolvem metrô, aeroportos, ferrovias, hidrelétricas e estádios.
Nesta segunda-feira, representantes do Sindicato da Construção Leve (Sintraconst) estiveram na manifestação da manhã. Eles querem que os funcionários deixem de pedir a mudança para o Sindicato da Construção Pesada (Sitraicp). Para isso, prometem negociar R$ 300 de tíquete alimentação, hora extra de 100%, plano de saúde extensivo a família, programa de produtividade, folga de campo a cada 90 dias, entre outras solicitações, como o aumento do salário.
– Queremos montar uma mesa de negociação com as empresas. Temos noção que essa obra é atípica, ou seja, precisa de uma conversa diferenciada. E não vamos deixar os trabalhadores na mão. Mas também não podemos ser massa de manobra, nos deixar levar por dois ou três que têm seus próprios interesses que não sejam dos trabalhadores – disse através do carro de som o presidente do Sindicato da Construção Leve Carlos Antônio Figueiredo, que não recebia muita atenção dos trabalhadores.
A pedida é bem parecida com a da construção pesada, que desde a meia-noite desta segunda-feira começou uma greve nas obras da Transcarioca, Transolímpica, do Porto, entre outras obras de infraestrutura. O Sindicato, porém, garante que, apesar da vontade dos trabalhadores das obras do Parque Olímpico e da Vila Olímpica, não tem qualquer ligação com a greve nesses dois canteiros.
O Sindicato da Construção Pesada propõe 10% de aumento para todas as funções, 100% das horas extras e cesta básica de R$ 300. Ainda na última quinta, a concessionária Rio Mais emitiu um comunicado oficial afirmando que os operários voltariam a trabalhar na sexta. Mas, diferentemente do que foi divulgado, as divergências não foram sanadas, e os trabalhadores voltaram a cruzar os braços.
Confira a íntegra do comunicado enviado na última quinta-feira
“A Concessionária Rio Mais, responsável por parte das obras no Parque Olímpico Rio 2016, informa que cumpre a Convenção Coletiva dos Trabalhadores vigente e que já houve acordo como sindicato que representa seus trabalhadores para a Convenção que vigorará nos próximos 12 meses. Por essa razão, os trabalhos serão retomados nesta sexta-feira (04/04). A Rio Mais reafirma a postura de diálogo permanente e transparente com todos os funcionários desde o início das atividades. Por fim, reitera que as horas de paralisação serão reprogramadas dentro do cronograma de produção, de modo a não impactar no prazo final de conclusão das obras”.