Dunga, ao centro, com Fofana, último à direita, de lado, no saguão do Sheraton Foto: Divulgação
O ex-técnico e ex-capitão da seleção brasileira Dunga vai ter que explicar à Polícia Civil seus encontros com o argelino Mohamadou Lamine Fofana, apontado como líder de uma quadrilha de cambistas que lucrava milhões com a venda de ingressos da Copa do Mundo. Uma foto, que faz parte do inquérito e foi obtida com exclusividade pelo Jogo Extra, mostra Dunga numa roda de conversas com Fofana, no saguão do hotel Sheraton, na Barra da Tijuca — onde o ex-capitão estava hospedado na semana passada.
A imagem foi feita no início da semana passada por policiais da 18ª DP (Praça da Bandeira) que faziam o trabalho de ação controlada, infiltrados na quadrilha. Segundo as investigações, o encontro no hotel não foi o único entre os dois na última semana. No dia 25, Dunga também participou de uma festa promovida por Fofana numa cobertura na Lagoa, para assistir ao jogo entre França e Equador. Na ocasião, também estavam presentes outros ex-jogadores, como Jairzinho e Mozer. De acordo com os agentes, que monitoraram os passos de Fofana por três meses, nesses encontros o empresário fazia contatos para adquirir entradas VIPs de cortesia, que ele revendia.
— Queremos saber qual a relação dos jogadores com o Fofana. A princípio, Dunga figura como testemunha, mas, se ficar comprovado que, nesses encontros, ele cedia ingressos para o argelino revender, ele será indiciado — afirmou o delegado titular da 18ª DP, Fábio Barucke.
Outros jogadores também vão ser chamados para depor na distrital. Júnior Baiano vai ter que explicar porque alugou um imóvel para o argelino ficar durante sua estada no Brasil. Todos os jogadores convidados para a festa de Lamine Fofana na semana passada também vão ser intimados.
Ex-técnico e Fofana já viajaram de avião juntos
O objetivo das investigações agora é chegar ao funcionário da Fifa que repassava os ingressos a Fofana. Segundo Fábio Barucke, esse homem é estrangeiro e está hospedado no Copacabana Palace. Para chegar à identidade do fornecedor das entradas, os agentes já ouviram o advogado José Massih, também preso na última segunda-feira em São Paulo, acusado de ser integrante da quadrilha. Ele passou aos agentes o primeiro nome de um homem que, segundo ele, seria o contato de Fofana na Fifa.
— Esse homem tem contatos com integrantes da Match, empresa que faz o serviço de venda para a Fifa. É assim que ele consegue os bilhetes — afirmou Barucke.
Ex-técnico sobre preso: ‘Não sou amigo’
Apesar de ser flagrado pelos agentes em duas oportunidades com Fofana, Dunga negou ser amigo do empresário Lamine Fofana. Em evento, ontem, no Maracanã, ele afirmou que conheceu Fofana em 2011, quando o argelino convidou vários ex-jogadores tetracampeões em 1994 para um amistoso na Chechênia, e confirmou o almoço na Lagoa. Entretanto, não mencionou a reunião no saguão do hotel Sheraton.
— Encontrei ele em um almoço na Lagoa, com representantes da embaixada da Suíça. É só o que tenho a falar sobre ele. Não tenho amizade e nem fui chamado por ninguém para qualquer esclarecimento — afirmou o ex-capitão da seleção.
Outro interlocutor de Fofana que é citado nas investigações é um homem que se identifica, nas interceptações telefônicas, como “MC Fiel”. Ele foi flagrado em contatos com membros da quadrilha combinando repasses de ingressos de uma ONG situada na Vila Kennedy, na Zona Oeste, para revenda por parte do grupo de Fofana.