No álbum de figurinhas da Polícia Civil tem chileno preso por incitação à violência, peruano detido por cambismo, colombiano flagrado usando documento falso e até um natural de Serra Leoa, na África, levado para a delegacia com maconha. Um levantamento feito pelo EXTRA mostra que 157 estrangeiros de 23 nacionalidades foram autuados nas duas primeiras semanas da Copa do Mundo, no Rio, por crimes ligados ao campeonato. Desses, 17 gringos vieram de países cujas seleções sequer participaram do Mundial.

Dos presos, 99 deles — o equivalente a 65% do total — são chilenos, tendo sido 92 autuados pelo crime de promoção, prática ou incitação à violência. Todos estavam no Maracanã ou em suas proximidades. No dia 18 de junho, 85 foram detidos e encaminhados para a Cidade da Polícia, no Jacaré, depois de, sem ingressos para a partida contra a Espanha, entrarem no Centro de Mídia do estádio e quebraram divisórias.

O consulado do Chile no Rio estima que 70 mil chilenos tenham vindo para o Rio, a fim de assistir aos jogos. O cônsul Samuel Osso está acompanhando todos os casos de envolvimento de torcedores com crimes, dando orientação às famílias e ajudando na escolha de advogados para defendê-los das acusações.

No ranking de detidos, Colômbia, Inglaterra e Peru estão empatados, em segundo lugar: há seis pessoas de cada nacionalidades respondendo criminalmente. Desses países, 88% foram autuados por cambismo. Outros continentes ainda têm autores desse tipo de delito: o escocês David Scott Orr foi preso no dia 22 de junho, acusado de vender um ingresso por R$ 400 e o indiano Depak Bansal foi surpreendido três dias depois, com outros dois convites na mão, além de cinco franceses, detidos no sábado.

Dolwin Hamilto, de Serra Leoa, foi flagrado no dia 11 de junho, com maconha. O hermano Daniel Gonzalo Gaston Rodriguez foi detido às vésperas da partida Argentina e Bósnia. Flagrado urinando, desacatou os PMs. O croata Irigen Dakic, aparentemente bêbado, agrediu militares que apartavam uma briga, no Galeão.

 

Prisão por outros delitos

No levantamento feito pelo EXTRA, os únicos homens que respondem pelo crime de uso de documento falso são quatro chilenos, um paraguaio e um colombiano. Eles foram presos no último dia 20, no Maracanã, durante a partida entre Espanha e Chile. Todos eles com credenciais falsas, para ter acesso ao jogo.

Dois chilenos — o empresário Fabian Alejandro Pino e o advogado Victor Ramon Reyes Pozo, conseguiram habeas corpus e estão soltos desde o fim da semana retrasada. Os outros quatro estão presos no Bandeira Stampa, no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu.

De acordo com a Secretaria estadual de Administração Penitenciária (Seap), o colombiano Juan Carlos Arce Cárceres e o chileno Victor Alfonso Fronteras Castillo encontram-se em celas individuais. O também chileno Jorge Alfonso Rodrigues e o paraguaio Luis Javier Costa estão na mesma cela. Ainda segundo a secretaria, apenas os torcedores do Chile receberam visitas de advogados.

Durante o Mundial, foram presos, ainda, torcedores que cometeram crimes que não têm ligação direta com o torneio. Na madrugada do último dia 7, quatro colombianos foram capturados, suspeitos de terem furtado celulares durante um show no Circo Voador, na Lapa. Diana Garzon, Paola Ceron, Jonathan Rodriguez e Edgar Garzon chegaram juntos ao Brasil e respondem por furto qualificado.

 

Entrevista com o juiz Marcelo Rubioli, do Juizado do Torcedor e dos Grandes Eventos do TJ do Rio

Entrevista com o juiz Marcelo Rubioli, do Juizado do Torcedor e dos Grandes Eventos do TJ do Rio Foto: Divulgação

 

‘A expectativa era que a Copa não seria um campeonato violento’

Entrevista com o juiz Marcelo Rubioli, do Juizado do Torcedor e dos Grandes Eventos do TJ do Rio

O número de detenções de estrangeiros surpreendeu?

Sim, porque a expectativa era que a Copa não seria um campeonato violento, por não existir grandes torcidas organizadas. Mas o comportamento dos estrangeiros nos surpreendeu. Foram cem pessoas envolvidas em ocorrências em seis jogos.

Há algum elemento que tenha influenciado nesse comportamento, como o álcool?

Sim, claro. As brigas não acontecem só por causa do consumo de álcool. Mas a ingestão de bebidas foi inesperada e um elemento de agravamento dos ânimos.

Qual o procedimento adotado com os detidos?

Eles são identificados e é feito o registro da ocorrência. No caso de crime de menor potencial ofensivo, eles já são levados para um juiz, um promotor e um advogado da Fifa. É proposta, então, uma transação penal, espécie de acordo com o Ministério Público.

Quais as punições previstas?

Pagamentos de cestas básicas ou multas e restrições do direito de frequentar outros jogos da Copa, por exemplo.

E no caso de prisão em flagrante?

Neste caso, o preso é levado ao juiz de plantão, que pode converter o flagrante em prisão preventiva. Depois, é encaminhado ao presídio.

O preso responde ao processo aqui no país?

Depende. Independentemente do processo criminal, é feita uma detenção administrativa, na qual o estrangeiro é apresentado à Polícia Federal, que apura a oportunidade ou não de expulsão do país.

Leia mais: http://extra.globo.com/casos-de-policia/policia-do-rio-prendeu-157-estrangeiros-nas-duas-primeiras-semanas-da-copa-do-mundo-chilenos-sao-maioria-13246520.html#ixzz37S9PeR2e