A dracenense Érica Vendramin Cancian, 34 anos, é graduada em Educação Física e pós-graduada na Unifadra Dracena, com 18 anos de experiência na relação com pessoas que possuem deficiência física, buscando revelar novos talentos para o atletismo e natação PCD de Dracena. Em entrevista ao Jornal Regional, a técnica que integra o time de profissionais da Seme, conta um pouco mais sobre suas experiências da carreira de professora e revela como consegue levar jovens desmotivados ao sucesso no esporte.
Tudo começou quando Érica, em conjunto com outros deficientes, formou a Adef/Suli que foi criada para atender as necessidades de quem possui determinadas deficiências físicas, no social e recreativo, e com o passar do tempo, surgiu-se a necessidade de levar alguns destes deficientes para o caminho do esporte. Com o passar do tempo algumas mudanças ocorreram no comando da Associação e Érica se desligou da entidade. Foi neste momento que surgiu o convite do então prefeito eleito, José Antônio Pedretti. Desde o início de 2013 a técnica comanda as aulas para alunos com deficiência, no atletismo e natação, e comemora o atual momento. “Estamos no caminho certo e evoluindo a cada dia. A prefeitura local, em parceria com alguns empresários, irão adquirir uma cadeira de corrida, além da cadeira de arremesso que já conquistamos. Os materiais esportivos para deficientes físicos são caros, mas tenho certeza de que conquistaremos ainda mais”, disse.
Outro fator que Érica destaca é a carga de intensidade nos treinamentos com estes alunos especiais. “O treino de um aluno com deficiência deve ser constante, intenso. Diferente de uma pessoa que tem a musculatura toda preservada, o deficiente quando para por uma semana, por exemplo, já perde todo o trabalho feito anteriormente. Por isso que monitoro meus alunos e busco a excelência nos treinamentos para atingir uma evolução satisfatória”.
Os resultados já apareceram com as medalhas do paranadador dracenense Alex Gomes Vieira, que conquistou excelentes resultados nos Jogos Regionais – Osvaldo Cruz – e Jogos Abertos do Interior, em Bauru, no ano passado. Érica conta que o caso de Alex foi uma grande descoberta. “No primeiro instante a gente faz uma visita social para conhecer a pessoa com deficiência. Fui à casa do Alex, para conhecê-lo, e em um primeiro instante ele se negou a sair de casa, pois após o acidente que sofreu, que o deixou sem os movimentos das pernas, ficou dois anos de luto, trancado em casa. Foi um resgate. Quando ele conseguiu sair de casa para ir até os treinamentos da natação, o clima mudou. Hoje, é possível ver a qualidade de vida que não só Alex conquistou, mas também todos à sua volta”, disse Érica.
O jovem revelou a Érica que superou muita coisa para poder chegar onde chegou. “Muita gente não viu que, para ele sair de casa e ir até o treino, ele saía à noite, com vergonha de encarar as pessoas. Hoje, ele enfrenta todas as situações sozinho, com personalidade. Isso é um trabalho esportivo sim, mas social também”. A professora disse ainda que há muitos deficientes que poderiam estar em atividade, mas a família os limitam. “Muitos pais têm medo de colocar seus filhos para praticar um esporte, pois acreditam que eles se expõem demais. Isso é triste”.
Com o trabalho em evolução, o governo municipal de Dracena já formou uma equipe para fiscalizar como está sendo feito este trabalho com os deficientes e também buscar novos atletas para integrar a equipe, mas ainda muita coisa deve ser feita. “Temos ainda dificuldades de transporte, por exemplo. Quando se fala em levar três ou quatro atletas deficientes, já se esbarra na condução. Não há carros adequados e os motoristas tem que pegar no colo estes alunos para efetuar o transporte e isso atrapalha muito”, lamentou Érica.
A professora adiantou que está se preparando e atualmente faz um curso de técnico paralímpico para que possa estar habilitada em formar novos talentos para até disputar as próximas Paralimpíadas, no Rio de Janeiro. “Estou me preparando e já passei pela primeira etapa, em São Paulo. O próximo passo será em Recife, Pernambuco, onde haverá competições de atletismo para acompanharmos”.
Quanto a gestão do trabalho e abordagem dos professores, Érica disse que o trabalho saiu do ‘engatinhar’ e já dá os primeiros passos. “Alguns de nossos atletas ainda estão um pouco bloqueados. Quando vamos em grandes competições, como foi em Bauru, vimos que os deficientes se comportam como pessoas normais, sem medos. Aqui no interior ainda encontramos opiniões retrógradas, que julgam os deficientes como doentes. É isso que devemos mudar”. O preconceito é algo que anda junto com este tipo de situação, mas em competições isso desaparece. “Já presenciei muita gente que se distancia quando se vê próximo de um cadeirante, por exemplo. E o legal é que a iniciativa de quebrar esses paradigmas parte dos próprios deficientes, como é o caso de alguns de nossos atletas que aprendem a se virar, fazer as coisas por si só. Isso é muito legal de se ver”, conta.
SERVIÇO – Os treinamentos na piscina aquecida da ABD ocorrem às terças, quintas e sextas, das 9h às 10h30. No Centro Olímpico, o atletismo entra em ação de segunda e quarta-feira, das 15h30 às 16h40, e às sextas, das 16h30 às 18h30. Para maiores informações ligar no telefone (18) 3821-4758, na Secretaria de Esportes de Dracena.