Em dezembro do ano passado, em um curso de aperfeiçoamento de treinadores na CBF, o professor pediu a seus alunos que se reunissem em pequenos grupos para fazer um trabalho. Jair Ventura, 38 anos, logo puxou uma cadeira e se juntou a Zé Ricardo, 45, e Eduardo Baptista, 47. Ali estava, em uma sala de aula, a personificação de um rejuvenescimento do mercado brasileiro de técnicos – uma renovação com reflexo na Série A deste ano, que começará com a menor média de idade entre os comandantes desde 2010.
Em comparação com a temporada passada, a queda é superior a três anos. A média dos treinadores na primeira rodada do Brasileirão de 2016 foi de 53 anos; em 2017, com começo neste sábado, será de 49,5 – levando em conta o interino do Vitória, Wesley Carvalho, já que o clube ainda não anunciou o substituto de Argel Fucks.
Quebrar a barreira dos 50 anos é simbólico. A última vez que isso aconteceu foi em 2010 – média de 48,9. A diferença agora é que os novatos são protagonistas. E os Estaduais deixaram isso bem claro.
Em São Paulo, o campeão foi Fábio Carille, do Corinthians, que tem 43 anos e vive sua primeira temporada como treinador de um elenco profissional; no Rio, o título ficou com Zé Ricardo, 45, alçado no ano passado ao comando do grupo principal do Flamengo; em Minas Gerais, a taça ficou com Roger Machado, 42 – que tem no Atlético-MG seu quarto clube, depois de passar por Juventude, Novo Hamburgo e Grêmio em três anos de carreira.
Nos Estaduais com representantes no Brasileirão, o treinador campeão mais velho foi Beto Campos, de 52 anos – o surpreendente vencedor do Gauchão com o Novo Hamburgo. Dois interinos foram campeões em Goiás e na Bahia: Silvio Criciúma (Goiás) e Wesley Carvalho (Vitória). Eles tentam traçar o mesmo caminho de Fábio Carille, de Zé Ricardo e também de Pachequinho (46), campeão paranaense e efetivado no Coritiba.
Mais Jovens
Dos 16 clubes que disputaram o Brasileirão passado e estarão novamente na edição de 2017, apenas cinco apostaram em treinadores mais velhos do que na temporada passada (levando-se em conta a primeira rodada): Cruzeiro, Fluminense, Grêmio, Ponte Preta e Vitória. Três repetem o treinador (Atlético-PR, Palmeiras e Santos). Os demais preferiram técnicos mais jovens. E é importante observar que os cinco mais novos treinam equipes que estão entre as mais populares do país – clubes como Corinthians, Flamengo, São Paulo, Atlético-MG e Botafogo.
Houve rejuvenescimento nos dois extremos: o treinador mais velho de 2017 é Abel Braga, de 64 anos, e na largada do campeonato passado era Givanildo, de 67; o mais novo em 2016, na primeira rodada, era Roger, então com 41, e agora é Jair Ventura, com 38. Treinadores que há poucos anos eram símbolos de novidade agora estão entre os mais velhos – casos de Dorival Júnior (55), Mano Menezes (54) e Renato Portaluppi (54), que só são mais jovens que Abel Braga e Paulo Autuori (60).
Por Alexandre Alliatti, Maurício Motta e Thiago Lima / Globo Esporte – São Paulo e Rio de Janeiro