DA REDAÇÃO

A ambliopia, mais conhecida como “olho preguiçoso”, pode afetar o desenvolvimento de áreas cerebrais responsáveis pela atenção e outras funções. Essa foi a descoberta de um estudo publicado no periódico Investigative Opthalmology & Visual Science.

Os pesquisadores descobriram que esse efeito está ligado à ambliopia causada pelo estrabismo, que corresponde a cerca de metade dos casos da condição.

Em geral, a ambliopia afeta cerca de 3% da população infantil. A condição é caracterizada pela redução da melhor acuidade visual corrigida, em um ou em ambos os olhos. É uma patologia que surge na infância, mas que pode trazer consequências para o resto da vida quando não diagnosticada e tratada de forma precoce.

Segundo Dra. Marcela Barreiraoftalmopediatra especialista em estrabismo, o processo visual ocorre quando a imagem é captada pela retina e enviada ao cérebro pelo nervo óptico.

“São enviadas duas imagens, uma de cada olho. No cérebro, essas imagens são fundidas em uma só. A visão binocular permite visualizar um campo visual mais amplo, dando a noção de profundidade. Na ambliopia, o cérebro dá preferência pela imagem captada pelo olho “bom”, devido a um conflito na fusão dessas imagens”, explica.

“Caso essa supressão aconteça por tempo prolongado, durante o período considerado crítico para o desenvolvimento visual, que é por volta dos dois anos de idade e que se completa por volta dos sete, há a possibilidade de ocorrer supressão irreversível. Ou seja, o cérebro irá continuamente favorecer o olho com a melhor visão, reduzindo a capacidade visual do olho afetado”, aponta Dra. Marcela.

Prejuízos no desenvolvimento neuropsicomotor

Há muitos anos, a ambliopia é alvo de estudos que já haviam apontado a hipótese dos prejuízos no neurodesenvolvimento. “A visão é essencial para o processo de aprendizagem e tem um papel preponderante – de cerca de 60 a 70% – até os nove anos de idade. Portanto, qualquer problema visual pode afetar a funcionalidade da criança, incluindo a sua vida escolar”, comenta a especialista.

Em relação ao estudo, a oftalmopediatra explica que a atenção é uma área que realmente pode ser prejudicada pela ambliopia. “Isso pode ocorrer porque a criança precisa direcionar o olhar e sustentar o foco da atenção para adquirir de forma contínua as informações do ambiente. Quando a criança tem ambliopia estrábica, o olho se desvia e esse foco pode ser prejudicado”.

“A visão se constrói por meio da identificação de cores, formas e detalhes associadas às informações dos movimentos. Portanto, qualquer problema no processamento visual pode prejudicar o desenvolvimento neuropsicomotor e cognitivo na infância”, reforça a médica.

Prejuízos funcionais

Para além do déficit de atenção que a ambliopia pode causar, há evidências crescentes de que as crianças com a condição têm habilidades motoras piores do que crianças com visão normal. Essas crianças podem ter mais dificuldade na escrita, desenho, jogos com bolas, recortes e qualquer outra atividade que exija a coordenação motora fina e grossa.

Sem reclamação

Estar ciente desses aspectos de prejuízos funcionais da ambliopia estrábica é importante. Isso porque a criança não tem um parâmetro do que é uma boa ou uma má visão.

“Dificilmente uma criança vai reclamar que não está enxergando bem para os pais ou educadores. Mas, àquelas com dificuldades escolares e problemas de coordenação motora, por exemplo, podem ter ambliopia. Como o olho preguiçoso não é tão evidente quanto o estrabismo, que causa o desalinhamento dos olhos, pode passar despercebida pelos pais”, diz Dra. Marcela.

Tratamento precoce é fundamental

Felizmente, o tratamento de oclusão ocular, o famoso tampão, apresenta ótimos resultados na melhora da visão das crianças com olho preguiçoso.

“No caso das crianças com ambliopia estrábica, quando a cirurgia de correção do desvio é feita dentro da janela de oportunidade (antes dos sete anos de idade), é possível recuperar os possíveis atrasos no neurodesenvolvimento sensório-motor”, ressalta a especialista.

Como saber se a criança é amblíope?

Como foi dito, a ambliopia não é evidente, ou seja, apenas o oftalmologista consegue diagnosticar a condição. A prevenção da ambliopia consiste no diagnóstico precoce de suas causas, principalmente do estrabismo que é responsável por cerca de 50% dos casos. Contudo, os erros refrativos como miopia e hipermetropia, também podem causar a ambliopia.

“A melhor prevenção é levar o bebê em seu primeiro ano de vida a um oftalmopediatra. Ao longo da infância, as consultas devem ser periódicas porque o estrabismo pode aparecer após os 12 meses, bem como os demais problemas de visão”, finaliza Dra. Marcela.