Artigo – Pastagens e serviços ecossistêmicos: uma abordagem integradora
Fabiana de Gois Aquino e Lourival Vilela, pesquisadores da Embrapa Cerrados
Muito tem sido falado sobre serviços ambientais e serviços ecossistêmicos. Os serviços ecossistêmicos são os benefícios que o homem obtém a partir do funcionamento saudável de ecossistemas, como os florestais, savânicos, aquáticos e de pastagens, além dos agroecossistemas. Enquanto os compartimentos dos ecossistemas (solo, água, fauna, flora etc.) são exemplos de estoque, os serviços podem ser considerados como fluxos resultantes da dinâmica dos ecossistemas. Já os serviços ambientais são as ações humanas que contribuem para a manutenção, recuperação ou melhoria dos serviços ecossistêmicos.
No Brasil, grande parte da produção de carne e leite ocorre no Bioma Cerrado. O manejo inadequado das pastagens tem levado muitas áreas ao processo de degradação. Ele é um dos maiores problemas da pecuária brasileira e que influencia diretamente os estoques de recursos naturais e a prestação de serviços ecossistêmicos. Dados de 2015 (Ministério do Meio Ambiente) mostram que as pastagens plantadas ocupam cerca de 60 milhões ha do bioma, e ao menos metade apresenta algum grau de degradação. O processo reduz a produtividade da pecuária de corte e leite, aumenta a perda de matéria orgânica do solo e a emissão de CO2 para a atmosfera, além de intensificar as erosões. Assim, o manejo inadequado das pastagens afeta a manutenção de importantes serviços ecossistêmicos, como a provisão de forragem, a conservação da água e do solo e a conservação da diversidade biológica.
Técnicas de recuperação de pastagens degradadas podem reativar os serviços ecossistêmicos e reduzir os impactos negativos. Pastagens bem manejadas permitem a manutenção de alguns desses serviços na agropecuária, como: biodiversidade no solo; ciclagem de nutrientes e água; produção de biomassa para fibra, biocombustível e forragem; manutenção da fertilidade do solo; e redução das emissões de carbono. A recuperação de pastagens contribui ainda para reduzir a pressão pela abertura de áreas com vegetação nativa.
O uso combinado de boas práticas agrícolas – como plantio direto, integração, rotação ou sucessão de culturas na mesma área e em épocas diferentes, uso de máquinas e equipamentos adequados, diversificação de forrageiras e manutenção das Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal – podem garantir estoques de recursos naturais que mantenham a fertilidade do solo, o acúmulo do carbono orgânico no solo, a atividade biológica, a diminuição nas perdas de solo e de água associados, sobretudo, à manutenção permanente da cobertura da superfície do solo.