Quem ama florestas, consome cafés sustentáveis
*Enrique Alves
Pesquisador da Embrapa Rondônia
Vivemos tempos em que as informações nos chegam nas mais diferentes plataformas e mídias, e isso é muito bom. Mas, essa popularização do conhecimento trouxe algo tão letal quanto à desinformação: a má informação. Quando estas notícias tratam de temas importantes como a preservação das florestas é preciso ter ainda mais cuidado.
É disso que vamos falar, da relação complexa entre a agricultura e a floresta. Não se pode ser inocente e dizer que a produção de alimentos no mundo não se deu com base no desmatamento. Isso sempre foi uma realidade e, em fronteiras agrícolas mundo afora, ainda pode ser observado. Mas, que fique bem claro, existe uma grande diferença entre produção sustentável de alimentos e degradação ambiental.
A Embrapa tem preconizado que a agricultura precisa ter um viés sustentável e busca, constantemente, em parceria com outras instituições, novas tecnologias com essa finalidade. Nesse contexto, há um novo modelo de produção agrícola integrada, que vem se tornando, a cada dia, mais popular no país, englobando diversas combinações entre os componentes agrícola, pecuário e florestal.
Se, no passado, a agricultura andava de mãos dadas com a degradação ambiental e o desmatamento, essa realidade já não é verdadeira para muitas das principais culturas alimentares do mundo e, dentre elas, destaca-se o café.
Podemos dizer que esse grão que construiu cidades e é a bebida mais consumida no mundo, depois da água, pode representar uma ferramenta vital para a inclusão e desenvolvimento social, qualidade de vida e preservação ambiental no Brasil, principalmente, na região amazônica. Isso não é sonho, é realidade.
Ao se observar o gráfico da série histórica da produção de café no Brasil – dados da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab, nota-se que entre os anos de 2001 e 2019 houve um decréscimo de 19% na área cultivada, cerca de 500 mil hectares a menos. Mas, ao contrário do se poderia imaginar, a produção do grão aumentou 58% no período.
Dentre as novas tecnologias incorporadas na cafeicultura, podemos citar: melhoramento e seleção genética, manejo de irrigação, arranjos espaciais eficientes, conservação do solo e manejo integrado de pragas e doenças. Tudo isso tornou as lavouras brasileiras mais sustentáveis e agronomicamente eficientes.
Os números apresentados demonstram que a evolução da cafeicultura no Brasil, passa longe do desmatamento. O país se consolida como a “nação do café”, sendo responsável por cerca de um terço da produção mundial.