O JR em homenagem aos 57 anos de emancipação político-administrativa de Panorama entrevistou uma pessoa que marcou época e venceu desafios: José Milanez, 85 anos, mais conhecido pelo apelido de “Ié”. O homem que, a pedido dos fundadores Nelson de Noronha Gustavo e João Brásio veio para Panorama construir a primeira cerâmica e anos mais tarde, decidiu ser candidato a prefeito em razão de sofrer um atentado pós-politica. 

O primeiro casamento foi com sua prima que lhe deu três filhos: Antônio José Milanez, Eunice Milanez e Vera Milanez. O relacionamento durou cinco anos. Fugiu com a adolescente Lúcia Molon Milanez, com quem está casado há 58 anos e tiveram mais três filhos: José Milanez Júnior (atual prefeito de Panorama), Marilda Aparecida Milanez Morgado de Abreu e Márcia Milanez Campo Dall´Orto. 

Quando morou em Valinhos (SP), tentou ganhar a vida como caminhoneiro viajando para Rio de Janeiro e Paraná. 

Chegou a Panorama em abril de 1959, motivado pelos fundadores do loteamento Panorama, Nelson de Noronha Gustavo e o sócio João Brásio, que o trouxeram para montar uma cerâmica e dar andamento nos lotes da cidade. E esta pessoa era ‘Ié Milanez’ um moço novo, que entendia muito de cerâmica e além de tudo era conhecido como por ser honesto e trabalhador. 

Depois da visita feita a Panorama, Milanez procurou à rua General Ozório, em Campinas (SP), os fundadores  que eram donos da Imobiliaria Campineira. Na conversa Nelson lhe perguntou se havia gostado de Panorama. “Gostei, mas não vou, estou muito bem aqui [Valinhos] e os patrões para quem trabalho não querem que eu saia”, explicou.

Descontente com a resposta de Milanez, Nelson imcumbiu seu sócio João Brásio a tentar de todas as maneiras possíveis convencê-lo a mudar de idéia durante horas, arrancando o “sim”. Milanez na última tentativa de esquivar-se de João Brásio pediu um alto salário para vir a Panorama, pensando que assim, desanimaria e conseguiria por fim a longa conversa. Pelo contrário,  a proposta foi acatada imediatamente e João Brásio com aperto de mãos, fechou o negócio. “Não tenho como escapar, tenho que ir mesmo para Panorama”, pensou Milanez. 

Antes de seguir viagem cumpriu 30 dias de serviço no antigo emprego. Durante três meses, ficou hospedado no Hotel Panorama [hoje Paranoá Clube]. Após desse período trouxe a família, e sem casa para morar, teve que amontoar seus móveis numa antiga escola da cidade.  Dois anos mais tarde se mudou para um escritório da empresa de colonização.

Começou a instalar a cerâmica no meio do mato, onde contava apenas um barracão para acomodar os maquinários velhos, que levaram Milanez a perder as unhas das mãos na tentativa de fazê-los voltar a funcionar. Com a situação, os patrões optaram pela compra de novos maquinários em Leme (SP). Os aparelhos movidos a vapor deram sequência na montagem da cerâmica, que produziria telha francesa. A meta era ir embora de Panorama tão logo terminasse o serviço. 

Quando estava tudo quase pronto, Milanez pensou bem antes de tomar sua decisão e após muitos meses de trabalho pesado, resolveu, enfim, ficar. Por 25 anos tomou conta da cerâmica e da contabilidade, enviando mês a mês para Campinas relatórios para acompanhamento contábil dos patrões. Deixou a cerâmica em 1984. 

POLÍTICA 

Na primeira vez que se candidatou a vice-prefeito em 1966, foi só para ajudar o candidato a prefeito na época, Ananias Martins. Discussão que acabou saindo como candidato a prefeito pelo MDB neste período. Perdendo uma eleição, que não tinha pretensões, estava na contagem de votos no Fórum em Dracena e como era amigo dos candidatos adversários, os trouxe de carona na volta para Panorama. Na altura do trevo de Tupi Paulista cruzaram com um caminhão lotado com pessoas que iam se encontrar com o prefeito eleito, receberam uma salva de tiros sobre o carro de José Milanez. Supreso com a atitude das pessoas e pensando que havia passado por uma eleição que não deveria ter entrado, decidiu naquele dia que iria lançar sua pré-candidatura a prefeito de Panorama para a próxima eleição antes mesmo de iniciar o mandato daquele período. 

“Fui trabalhando fazendo minha campanha política durante o tempo que Deroci Alves Valença foi prefeito”. 

Após findarem-se os três anos de mandato, o Governo Federal alterou os prazos de mandato em uniformidade com todos os municípios brasileiros. Em 1969 foi a eleição e em 1970 tomou posse seguindo até 1972 no mandato. Ganhou do candidato Antônio Possari, vice no mandato anterior de Deroci Alves Valença. “Entrei na política por um acaso”, disse. 

Na primeira gestão, asfaltou várias ruas no centro da cidade, construiu praças iluminadas, feira com boxes para os feirantes, implantou o ensino colegial na escola Dom Lúcio Antunes e trouxe o telefone semi-automático instalando 250 aparelhos telefônicos. As ligações tinham que ser solicitadas na cabine instalada num prédio inaugurado na rua Júlio Barata. 

A primeira ligação interurbana foi feita a Dracena pelo então prefeito, José Milanez, para um amigo. Recebeu o apoio do deputado estadual Jamil Dualib. Construiu três escolas de alvenaria e 48 mil metros de asfalto no primeiro mandato. 

No segundo mandato, passado a gestão de Antônio Silveira (1973 a 76), Milanez se elegeu prefeito novamente (empossado em 1977) cumprindo seis anos de mandato. Nessa época construiu a quadra coberta, poços artesianos, construiu o La Plata [antiga prainha] desviando o córrego das Marrecas para dentro do lago artificial construindo duas quadras, banheiros, dois campos de bocha, campo de malha, quadra polivalente, centro comunitário e uma piscina infantil, local batizado pela administração de Centro de Lazer do Trabalhador. 

Retornou o Córrego das Marrecas no leito antigo passando a bombear água do rio Paraná para o lago artificial ficando sem circulação. Só sobraram os banheiros e o centro comunitário. “Se hoje temos este balneário aqui devemos muito a existência do La Prata”, afirma.

Conseguiu a automatização e DD (Discagem Direta) do telefone, trouxe a Ciretran, criou a bandeira e brasão de Panorama, construiu estrada vicinal de Panorama a Ouro Verde.

Na inauguração do prédio da Caixa Econômica, Milanez pediu ao governador Paulo Maluf Cr$ 3 milhões para construção da Santa Casa.. Recebeu Cr$ 2 milhões, liberados pela Secretaria de Promoção Social. Conseguiu mais Cr$ 2 milhões no Ministério da Saúde em Brasília (DF).

Passou por seis enchentes no rio Paraná (1500 flagelados) e devido a amizade com a Defesa Civil conseguiu o que precisava para reconstruir os desmanches causados pela água. Construiu um albergue para acomodar os flagelados. Dividiu seu tempo entre a prefeitura e cerâmica. “Panorama não era nada, só quem viveu naquela época sabe o que eu fiz”, afirma. 

Levou energia elétrica no bairro Monteiro Lobato. Conseguiu 82 casas no bairro Nosso Teto. Foram 116 mil metros de asfalto no dois mandatos. “Eu nunca tive reprova de Tribunal de Contas e muito menos tirei chapéu para vereador”, finalizou.

 RECONHECIMENTO 

Ganhou diploma de Mérito Municipalista eleito um dos “10 Prefeitos mais atuantes da 10ª Região Administrativa do Estado de São Paulo”. Pesquisa feita pelos jornais-  Diário de São Carlos e Diário de Araraquara-  na gestão de (1977-80). Mesmos órgãos de imprensa que o escolheram como um dos melhores prefeitos do Estado de São Paulo. 

Escolhido pelo jornal Tribuna do Interior em outubro de 1971 como “Dez melhores do ano”. Em dezembro de 1982 ganhou da Câmara de Panorama o diploma de prefeito Modelo. Homenageado como “Cidadão Honorário de Panorama” em junho de 1994. Ganhou reconhecimento pela colaboração na construção do templo da Loja Maçônica.