Persistência. Essa é a palavra que define o trabalho desenvolvido há 12 anos pela Associação J. Marques, no distrito de Jaciporã. Formada por um grupo de 13 sem-terras, eles lutaram por uma oportunidade de trabalho em terras produtivas. Com apoio de algumas pessoas que foram essenciais durante todos esses anos, os mesmos sem terras conseguiram tornar-se produtores e formaram uma das mais importantes associações da microrregião de Dracena. Recentemente, a presidente da Associação J. Marques, Edna de Barros (Pretinha), foi convidada a compartilhar os meios de trabalho desenvolvido pela Associação com produtores rurais da África. Ela será a única representante do País.

Edna lembra que a história do trabalho desenvolvimento começou quando os sem-terras invadiram uma propriedade particular rural ao lado da Fazenda das Cobras, em Jaciporã. “A proprietária desta fazenda veio nos visitar e me disse que um dia iríamos trabalhar em conjunto. Ela nos contratou como funcionários dela e trouxe uma novidade para a região, o plantio da palmeira real. Não imaginávamos que aquele era o primeiro passo que mudaria o rumo das nossas vidas”, diz.

A responsável por mudar para melhor a história dos ‘antigos’ sem-terras, é a pecuarista Marilene Magres Marques, que reside em Araçatuba, mas que ainda possui a propriedade rural em Jaciporã. Além de dar a oportunidade de emprego, com o passar do tempo, sugeriu que eles formassem uma Associação para vender produtos oriundos da terra.
Foi quando a pecuarista arrendou 30 alqueires de terra para que o grupo plantasse milho e batata doce. Esse fato marcou o início da Associação que foi fundada em junho de 2001 com o nome do esposo de Marilene, José Marques Lopes (já falecido). “Com o passar do tempo, começou a cair a produção desses alimentos. Em virtude disso, procuramos a Cati (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral) para conhecer alguma cultura que não dependesse tanto do clima. Até hoje, a Cati foi essencial para o desenvolvimento da Associação. Recebemos auxílio de engenheiros que trouxeram novas ideias e projetos de cultivo”, explica Edna.

Segundo Edna, o primeiro benefício que a Associação trouxe para o distrito de Jaciporã foi a construção de um velório que também serviu de sede para os associados, situado na entrada do distrito. “Em contato com o prefeito da época, Junior Stelato, ele cedeu um terreno onde havia um postinho de saúde em desuso. Com a ajuda de Marilene ela pagou todos os materiais da obra e pagou a mão-de-obra para construção do Velório Municipal”, ressalta.

Após a construção da sede, o engenheiro agrônomo da Cati, Sebastião Netto de Carvalho e Silva entrou em contato com a Associação sobre a possibilidade dos integrantes trabalharem com horta. A partir desse momento, os produtores associados participaram de cursos de aprimoramento.

Edna lembra que a primeira horta foi feita em um terreno atrás do Velório Municipal, e ainda por cima, na época mais quente do ano. Porém eles conseguiram produzir através de irrigação na ‘mangueirinha’, porque naquela época não tinham condições de comprar os equipamentos necessários.

Em 2006, já com um maior número de produtores, surgiu a oportunidade de ampliar os negócios. Eles conseguiram arrendar outra área com um espaço ainda maior para dar continuidade do manuseio da horta.

Atualmente a Associação J. Marques conta com 81 produtores, sendo 48 mulheres e com um plantio de mais de 30 produtos divididos em quatro áreas rurais arrendadas, sendo elas, Sítio São Joaquim, Fazenda das Cobras, Sítio Dois Irmãos e Fazenda Turmalina (com o plantio da mandioca).

Nas segundas-feiras é efetuada a colheita dos alimentos para merenda escolar e dos alimentos para o Jardim Brasilândia; de terça-feira, para Apae e Santa Casa; de quarta-feira Avapac; de quinta-feira para o bairro Santa Clara (através da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social); de sexta-feira, o bairro Tonico André e Parque Dracena; aos sábados para os distritos de Jaciporã e Jamaica. Edna pontua que ainda existem outros pontos para distribuição de alimentos que ainda serão definidos pela Secretaria de Assistência.

“Percebo que o crescimento da Associação tem sido muito grande. A condição de vida hoje comparada há alguns anos é totalmente diferente. Hoje, o produtor da Associação trabalha sabendo o que vai produzir, onde irá entregar e o valor que irá ganhar durante todo o ano em cima daquele produto”, avalia Edna ressaltando ainda que “se não fosse a ideia da dona Marilene, e, por ela ter nos ajudado, a Associação nem existiria”.

PROJETOS – Desde 2006, a Associação J. Marques participa do projeto do Governo PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e há quatro anos os associados trabalham no programa Agricultura Familiar, fornecendo alimentos para a merenda escolar de 24 unidades escolares em Dracena e nos distritos (escolas municipais, estaduais e creches). Esse último programa, já rendeu diversos prêmios a Associação pela excelência na qualidade dos alimentos.

As verduras encaminhadas às escolas são colhidas praticamente todos os dias nas hortas. Em seguida, são encaminhadas ao barracão (também arrendado), para serem separadas, lavadas, pesadas e empacotadas, onde posteriormente serão distribuídas nas escolas.
A partir de janeiro do ano que vem, todos os associados participarão de um curso sobre alimentos orgânicos, no Sindicato Rural, através do Senar, para que os produtos comecem a ser produzidos o mais saudável possível. O curso deverá ocorrer até o final de 2014.
NOVO PROJETO – Recentemente surgiu a oportunidade de a Associação fazer parte do Programa Microbacias II. Após ter o projeto escrito avaliado, há três semanas, a Associação recebeu a visita de técnicos do projeto para avaliar se a J. Marques poderá participar ou não do Microbacias II.

Com este projeto, a Associação poderá já entregar as verduras lavadas e embaladas, através do sistema de pachouse, ou seja, um barracão que contará com escritório, cozinha e diversos maquinários e possibilitará também as etapas do processamento de folhas, verduras e dos legumes.

Esse sistema ajudará o produtor a ganhar a mais. “Hoje vendemos para o PAA, agricultura familiar, para os mercados e também produtos in natura, tudo isso em Dracena. A nossa intenção é ampliar e vender para os mercados também da região já processado, ou seja, lavado, empacotado e alguns produtos já picados como é o caso da cenoura”, enfatiza Edna. No projeto, estará incluso a compra de um veículo que servirá para os produtores fazerem feira livre.

Outra novidade, é que o nome dos produtos passará a se chamar ‘Terra Porã’, uma mistura de significados entre terra e beleza. Esse nome constará nos uniformes dos funcionários da Associação. “Acredito que isso causará uma revolução para o distrito. As mulheres que hoje estão paradas poderão ser inseridas para trabalharem na cozinha”, salienta a presidente da J. Marques.